Superfícies Permeáveis e Impermeáveis: Como equilibrar a água no seu terreno
- Ana Carolina Santos
- 27 de jun.
- 2 min de leitura
Num Projecto de Arquitectura, a gestão da água começa logo no desenho da parcela. A proporção entre área permeável (solo que deixa infiltrar) e área impermeável (edifícios, lajes, pavimentos rígidos) é decisiva para evitar cheias, proteger fundações e cumprir a legislação urbanística.

1. Conceitos-chave
Área permeável
Solo natural ou ajardinado, zonas com gravilha drenante, pavimentos porosos.
Permite infiltração, recarga aquífera e redução de escorrência superficial.
Área impermeável
Implantação de construções, coberturas, estacionamentos rígidos e vias pavimentadas.
A água escorre rapidamente, obrigando a soluções de drenagem dimensionadas.
Um lote equilibrado combina infiltração natural e drenagem controlada – economia em infra-estruturas e mais conforto térmico.
2. Porque é que a permeabilidade interessa?
– Minimiza cheias nos picos de chuva e alivia redes pluviais municipais.
– Reduz o risco de assentamentos diferenciais e humidade em pavimentos térreos (art.º 40.º RGEU).
– Contribui para ilhas de frescura urbana e melhoria da qualidade do ar.
– Pode ser critério de avaliação em certificação ambiental de edifícios.
3. Condicionantes legais frequentes
Taxa máxima de impermeabilização definida no Plano Director Municipal ou Regulamento de Loteamento. Ex.: 60% para habitação unifamiliar, 80% em centros urbanos.
Faixa verde obrigatória nos logradouros (muitas Câmaras impõem 30% da área livre ajardinada).
Zonas inundáveis ou REN/RAN: percentagens permeáveis mais exigentes e restrições a escavações profundas.
RGEU– Pavimentos térreos requerem camada impermeável e drenagem eficaz (art.º 40.º).– Os logradouros devem assegurar rápido escoamento sem prejudicar vizinhos (art.º 76.º).
Sistemas de retenção: nalguns municípios, áreas impermeáveis superiores a 150 m² obrigam a bacias ou caixas de retenção antes da descarga na rede pública.
4. Como calcular
Levantamento topográfico georreferenciado.
Delimite:
Implantação do edifício e anexos.
Estacionamentos rígidos, acessos e terraços.
Some todas as superfícies rígidas → Área impermeável (AI).
Área total do terreno (AT).
% impermeável = (AI ÷ AT) × 100.
Compare com o limite regulamentar e ajuste o projecto.
5. Estratégias para ganhar permeabilidade
Pavês drenante ou grelhas de enrelvamento em lugares de estacionamento.
Coberturas ajardinadas – absorvem até 60 l/m² de chuva.
Calçadas “abertas”: juntas alargadas com areão lavável.
Bacias de biorretenção nos limites do lote.
Cisternas para recolha de águas pluviais e reutilização em rega.

6. Etapas de Licenciamento
Verifique a percentagem de impermeabilização admissível no PDM e no Regulamento Municipal.
Apresente memória descritiva com quadro-síntese de áreas.
Justifique soluções de retenção se o limite for ultrapassado.
Garanta que a drenagem não aumenta o caudal em parcelas vizinhas.
Acompanhe a obra: qualquer alteração nos pavimentos deve ser comunicada para não comprometer a licença de utilização.
Para considerar
Gerir o equilíbrio entre superfícies permeáveis e impermeáveis não é mero detalhe técnico: influencia o conforto da habitação, protege o investimento e evita coimas por incumprimento urbanístico. Planear cedo a drenagem e o paisagismo permite cumprir a lei, reduzir custos de manutenção e criar espaços exteriores mais agradáveis e sustentáveis.