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Financiamento e incentivos para Alojamento Local: Maximizar oportunidades de apoio

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • há 3 dias
  • 8 min de leitura

Investir em alojamento local em Portugal enfrenta desafios significativos, não apenas regulatórios mas também financeiros. Contudo, o país dispõe de ecossistema robusto de apoios financeiros, subsídios a fundo perdido e incentivos fiscais desenhados especificamente para dinamizar o setor turístico. Muitos proprietários e investidores desconhecem a amplitude destes apoios ou acreditam incorretamente que não reúnem elegibilidade para os mesmos. Este post detalha os principais fundos, programas de apoio e benefícios fiscais disponíveis, fornecendo informação prática sobre como aceder a estes recursos.​


Agroturismo e reabilitação de casas de campo com o financiamento de fundos nacionais
Agroturismo e reabilitação de casas de campo com o financiamento de fundos nacionais

Enquadramento: Onde estão os apoios financeiros?


Os apoios para alojamento local em Portugal são disponibilizados através de múltiplas fontes, organização e estruturas:

A maioria destes apoios dirige-se especificamente a projectos em territórios de baixa densidade e interior do país, embora existam também oportunidades em zonas urbanas quando o projeto demonstra inovação, sustentabilidade ou impacto económico relevante.



Programa "Crescer com o Turismo": O principal veículo de apoio


O Programa "Crescer com o Turismo" é o principal instrumento de financiamento para alojamento turístico em Portugal, enquadrado no ambicioso plano Portugal 2030.​


Características fundamentais

Taxa de Financiamento Base:

  • 60% de financiamento a fundo perdido das despesas elegíveis

  • Isto significa que o proprietário financia apenas 40% do projeto; os restantes 60% são subsídio público que não precisa de ser reembolsado

Bonificações adicionais:

  • +20% para projectos em territórios de baixa densidade — zonas do interior, ilhas e regiões com população dispersa

  • Combinado: até 80% de apoio total para projectos bem localizados

Esta bonificação é crítica — em territórios de baixa densidade, o proprietário pode cobrir apenas 20% do investimento com capital próprio.


Limite de apoio

  • Até 400.000€ por projeto para empreendimentos turísticos

  • Até 200.000€ para micro e pequenas empresas (MPE)

Projectos de alojamento local de pequena e média dimensão enquadram-se geralmente na categoria de MPE, logo com limite de 200.000€.


Que despesas são elegíveis?

O programa cobre uma gama ampla de investimentos:

  • Reabilitação de edifícios — reparação de estrutura, telhados, fachadas

  • Equipamentos e mobiliário — camas, mobiliário de sala, cozinha, eletrodomésticos

  • Sistemas técnicos — instalações sanitárias, sistemas de aquecimento/climatização, redes de água e esgotos

  • Segurança contra incêndios — equipamentos, sinalização, rotas de emergência

  • Acessibilidade — rampa de acesso, portas alargadas, instalações sanitárias acessíveis

  • Eficiência energética — painéis solares, isolamento, vidros de baixa emissividade

  • Marketing digital — website, fotografia profissional, estratégia de promoção online

  • Estudos técnicos — projetos, avaliações, consultoria especializada


Quem é elegível?

O programa é acessível a:

  • Pessoas singulares — proprietários individuais que iniciem atividade de alojamento local

  • Micro, pequenas e médias empresas (até 249 trabalhadores) que explorem alojamento turístico

  • Proprietários rurais que desejam diversificar economicamente através do turismo

  • Agricultores que procuram complementar rendimento com turismo rural

Não há restrição de idade, embora jovens empresários (até 40 anos) possam beneficiar de majorações adicionais em certos programas complementares.


Linha de Apoio à qualificação da oferta turística

Além do programa principal, existe linha de apoio específico para qualificação e melhoria contínua da oferta.​


Características

  • Até 75% a 80% de financiamento a fundo perdido

  • Limite de até 3 milhões de euros — aplicável a projetos de maior escala

  • Estrutura simplificada para PMEs: 75% do investimento financiado sem juros + 25% financiado com juros bancários (mas sem garantia pessoal do proprietário)


Que projetos são prioritários?

  • Modernização de infraestruturas de alojamento

  • Aumento de capacidade

  • Criação de serviços complementares (refeições, atividades, guia turístico)

  • Melhoria de acessibilidade

  • Implementação de sistemas de eficiência energética e sustentabilidade ambiental



Programa PDR 2020: Desenvolvimento rural


Ainda em execução, o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) oferece apoios específicos a projectos de turismo rural em zonas elegíveis.​


Características

  • 40% a 70% de financiamento a fundo perdido, conforme tipologia

  • Foco em reabilitação de casas rurais típicas para fins turísticos

  • Prioritário em regiões menos desenvolvidas do interior


Elegibilidade

  • Proprietários rurais

  • Pequenas e médias empresas de turismo

  • Cooperativas turísticas

  • Projetos com impacto económico ou ambiental demonstrado


Agenda do Turismo para o interior

Iniciativa específica que reconhece desafios particularmente agudos do turismo em zonas de interior.​


Linha "+Interior, Turismo, Território"

  • Até 70% de financiamento a fundo perdido

  • Apoio máximo de 400.000€ por projeto

  • Critérios de elegibilidade flexíveis — não exigem que projeto esteja já licenciado, apenas que seja viável

Esta flexibilidade é valiosa para empreendedores que ainda estão em fase inicial de desenvolvimento.



Sistemas de Incentivos de Base Territorial (SIBT): Abordagem regional


Cada região possui sistema próprio de incentivos, administrado pela CCDR regional.


SIBT Norte, Centro, Alentejo e Algarve

Características comuns:

  • Até 60% de financiamento a fundo perdido em média

  • Limites de investimento: tipicamente entre 150.000€ e 300.000€

  • Majorações adicionais para projectos em zonas de baixa densidade


Como diferem os sistemas regionais?

Cada CCDR pode estabelecer prioridades específicas. Por exemplo:

  • SIBT Norte — pode priorizar turismo de natureza ou experiências

  • SIBT Centro — pode dar ênfase a aldeias históricas e património

  • SIBT Alentejo — pode focar agroturismo e experiências autênticas

Proprietários devem consultar a CCDR competente para identificar prioridades regionais e oportunidades de majoração.


Projectos bem estruturados em territórios de baixa densidade podem alcançar até 80% de financiamento a fundo perdido — isto é, a comunidade pública financia 4/5 do investimento.


Incentivos Fiscais: Deduções em IRS e IRC


Para além de apoios diretos, o sistema fiscal português oferece benefícios significativos a proprietários de alojamento local.​


Rendimentos em Categoria B do IRS (Empresarial)

Se o proprietário registar alojamento local como atividade empresarial:

Regime de Rendimento:

  • Coeficiente de 65% — apenas 35% dos rendimentos são tributáveis

  • Os restantes 65% são presumidos como custos da atividade

  • Exemplo: Se ganhar 10.000€ anuais, paga IRS apenas sobre 3.500€

Vantagem: Não necessita de documentação detalhada de despesas. É um regime particularmente favorável para pequenos alojamentos com custos difíceis de rastrear.

Regime de Rendimento Real:

  • Todas as despesas documentadas são deduzidas — equipamentos, manutenção, serviços, impostos, contribuições sociais

  • Paga IRS apenas sobre lucro real apurado

  • Vantagem: Mais benéfico se despesas são substanciais. Proprietário que gasta muito em manutenção ou melhorias aproveita plenamente as deduções


Rendimentos em Categoria F do IRS (Predial)

Alternativa ao regime empresarial:

  • Rendimentos sujeitos a taxa fixa de 28%

  • Sem deduções de despesas

  • Mais simples administrativamente, mas menos vantajoso fiscalmente para proprietários com despesas significativas


IRC (Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas)

Se alojamento local é explorado através de empresa:

Medida de incentivo (2025 em diante):

  • Empresa paga IRC apenas sobre metade das rendas recebidas

  • Redução significativa de carga fiscal

  • Objetivo: Incentivar formalização e profissionalização de alojamento turístico


Deduções adicionais em IRS

Caso de Hostels:

  • Coeficiente especial de 0,15% — ainda mais favorável que alojamento local comum

  • Reconhecimento do setor que hostels têm custos operacionais particularmente elevados


IVA: Regime de isenção

Se alojamento local fatura menos de 15.000€ anuais, é elegível para isenção de IVA.​


Vantagens

  • Não necessita faturar IVA aos hóspedes

  • Não tem obrigações de declarações periódicas de IVA

  • Simplifica administração


Limitação

  • Não pode deduzir IVA das próprias despesas (ex: não recupera IVA de mobiliário ou equipamentos)

  • Se ultrapassar 18.750€ em volume de vendas no mesmo ano, perde isenção


Regime de IVA Normal

Se volume de negócios for superior ou se proprietário optar voluntariamente:

  • Fatura IVA (23%) aos hóspedes

  • Mas deduz IVA das despesas — mobiliário, equipamentos, serviços, comissões de plataformas

Este regime é mais vantajoso se o investimento inicial é grande, pois recupera o IVA.



Programa "Mais Habitação": Incentivo à conversão


Embora não seja apoio direto a alojamento local, é importante conhecer a medida inversa para contexto completo.​


Isenção Fiscal para quem retire de Alojamento Local

Proprietários que retirem imóvel de alojamento local e o coloquem em arrendamento habitacional de longa duração podem beneficiar de:

  • Isenção de IRS/IRC sobre rendas até 31 de Dezembro de 2029

  • Desde que contrato tenha sido celebrado até final de 2024

Esta medida é relevante para proprietários que desejem mudar de modelo, mas também demonstra que o governo reconhece importância de ambos os sectores.


Atividades recreativas em agroturismo no interior das casas de campo reabilitadas
Atividades recreativas em agroturismo no interior das casas de campo reabilitadas

Processo de candidatura: Passo a passo


Para aceder a apoios a fundo perdido, é necessário seguir um procedimento estruturado.


Passo 1: Identificar o programa adequado


Passo 2: Verificar a elegibilidade

Confirme se o projeto cumpre requisitos:

  • Localização: Está em zona elegível (interior, baixa densidade, etc.)?

  • Tipologia: O projeto é alojamento local, turismo rural ou empreendimento turístico?

  • Capacidade financeira: Tem capital próprio para cofinanciar (típicamente 20-40%)?

  • Situação tributária: Está regularizado perante Finanças e Segurança Social?


Passo 3: Preparar a documentação

A candidatura deve incluir:

  • Plano de negócio detalhado — projeções de receita, análise de mercado, estratégia de operação

  • Orçamentos rigorosos — despesas por categoria, cotações de fornecedores

  • Projeto técnico — arquitetura, especialidades (se aplicável), cronograma de execução

  • Documentos de propriedade — certidão do registo predial, caderneta predial

  • Documentação fiscal — NIF, comprovativo de regularidade tributária

  • Estudo de viabilidade económica — análise de custos, receitas, período de retorno

  • Estratégia de marketing — como atrair hóspedes, canais de distribuição


Passo 4: Submeter a candidatura

  • Candidatura é 100% online, através de plataformas específicas (ePortugal, portais regionais)

  • Devem ser submetidos apenas documentos digitalizados em formato PDF

  • Sistema gera comprovativo de submissão — guardar para referência


Passo 5: Avaliação

  • Equipa técnica da entidade gestora avalia candidatura (prazo: típicamente 60-90 dias)

  • Se necessário, serão solicitadas esclarecimentos ou documentação complementar

  • Resultado é comunicado por escrito


Passo 6: Execução e pagamento

Se aprovado:

  • Proprietário recebe decisão de financiamento

  • Deve abrir conta bancária específica para despesas do projeto

  • As despesas são pagas por tranches, após comprovar que foram realizadas

  • Adiantamentos iniciais são possíveis (10-15% do valor aprovado)



Conselhos práticos para maximizar probabilidade de aprovação


Diferencie o projecto

Avaliadores procuram projectos que se destaquem. Demonstre:

  • Inovação — experiências únicas, serviços complementares

  • Autenticidade — incorporação de elemento local, património, tradição

  • Sustentabilidade — preocupação ambiental, energias renováveis, materiais ecológicos


Estruture documentação com rigor

Documentação de qualidade medíocre é rejeitada. Assegure que:

  • Plano de negócio tem análise credível de mercado (não especulativo)

  • Orçamentos são detalhados e bem fundamentados, com cotações reais

  • Projeções financeiras são realistas — avaliadores identificam facilmente exageros

  • Projeto técnico, profissional e compatível com legislação


Enfatize o impacto local

Programas valorizam projectos que:

  • Criam emprego (permanente ou sazonal)

  • Revitalizam edifícios abandonados ou degradados

  • Potenciam economia local (eventos, atividades, parcerias)

  • Valorizam património natural ou cultural


Demonstre capacidade de execução

Proprietários inexperientes no setor devem:

  • Contratar consultores especializados em turismo para fortalecer o plano de negócio

  • Apresentar antecedentes de sucesso noutros projectos (se aplicável)

  • Envolver profissionais qualificados — arquitetos, técnicos especializados

O investimento em consultoria de qualidade frequentemente resulta em aprovação, ao passo que candidaturas amadoras são rejeitadas.


Considere incentivos cumulativos

Alguns apoios podem ser acumulados. Por exemplo:

  • Financiamento a fundo perdido (ex: 60% do projeto)

  • Mais crédito fiscal adicional (ex: 5% do projeto)

  • Mais deduções de IRS sobre rendimentos futuros

Explore possibilidades de acumulação com especialista.



Erros frequentes a evitar


Submeter candidatura prematura

Muitos proprietários submetem antes de ter documentação completa. Resultado: indeferimento por deficiências. Reúna toda a documentação antes de submeter.


Subestimar custos do projecto

Orçamentos irrealisticamente baixos indicam falta de rigor. Documentação exigirá comprovação — orçamentos preliminares devem estar bem fundamentados.


Ignorar prazos de candidatura

Muitos programas têm prazos limite. Procure informação regularmente sobre aberturas — não espere até último dia.


Não consultar especialistas

Proprietários sem experiência em processos de candidatura frequentemente cometem erros técnicos ou administrativos. Contrate um consultor especializado em apoios ao turismo.


Negligenciar conformidade regulatória

Candidatura deve demonstrar que projeto será legalmente conforme — licença de utilização, licença de alojamento local, etc. Não assuma que aprovação de apoio dispensa conformidade regulatória.



Para refletir


Portugal dispõe de um ecossistema sofisticado e bem-dotado de apoios financeiros ao alojamento local. As oportunidades são reais — muitos projectos recebem 60% a 80% de financiamento a fundo perdido, significando que a comunidade pública financia a maioria do investimento.

Contudo, aceder a estes apoios exige rigor, documentação de qualidade e compreensão clara dos requisitos. Proprietários que negligenciam este processo — submetendo candidaturas incompletas ou mal estruturadas — perdem oportunidades significativas de capital público.

Para proprietários e investidores em alojamento local, a recomendação é clara: invista em consultoria especializada na fase inicial. O custo dessa consultoria é rapidamente recuperado pela aprovação de candidaturas bem estruturadas que atraem financiamento significativo. Combinar apoios financeiros públicos com incentivos fiscais resulta em modelo económico robusto e resiliente para projectos de alojamento turístico em Portugal.

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