Investimento em Legalização vs. Valorização Imobiliária: Análise económica detalhada do processo
- Ana Carolina Santos

- 13 de out.
- 6 min de leitura
A legalização de operações urbanísticas em Portugal representa muito mais do que uma mera formalidade administrativa. Trata-se de um investimento estratégico que pode determinar o sucesso ou fracasso de um projeto imobiliário, influenciando diretamente a valorização patrimonial e o retorno económico a longo prazo.
Numa altura em que o mercado imobiliário português atravessa um período de intensas transformações regulamentares e pressões inflacionárias, compreender a relação custo-benefício da legalização torna-se fundamental para proprietários, investidores e promotores imobiliários.

O cenário atual da Legalização em Portugal
O panorama da legalização urbanística português apresenta complexidades significativas que impactam diretamente a análise económica dos projetos. Segundo dados recentes, o país possui milhares de construções em situação irregular, muitas das quais anteriores a 1951, data de entrada em vigor do Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU).
Enquadramento legal contemporâneo
O Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE) estabelece no artigo 102º-A os procedimentos para reposição da legalidade urbanística. Este diploma determina que a legalização deve ser promovida sempre que se conclua ser possível assegurar a conformidade das operações com as disposições legais aplicáveis à data da construção.
As recentes alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 10/2024, no âmbito do programa Simplex Urbanístico, simplificaram significativamente os procedimentos, substituindo licenças por comunicações prévias em determinados casos.
Análise de Custos: Investimento inicial na Legalização
Estrutura de custos típica
A legalização de operações urbanísticas envolve múltiplas componentes de custo que variam significativamente consoante a complexidade e tipologia da intervenção:
Custos técnicos e profissionais
Honorários de arquitetos e engenheiros: €3.500 - €15.000
Levantamentos topográficos e especialidades: €1.500 - €5.000
Estudos geológicos (quando necessários): €800 - €2.500
Taxas Administrativas e Municipais
Taxas de legalização base: €750 - €6.500
Ocupação de via pública: €150 - €500
Inspeções municipais: €200 - €800
Custos de adequação e correção
Obras de correção necessárias: €5.000 - €50.000
Sistemas de segurança e acessibilidades: €2.000 - €15.000
Certificações energéticas: €250 - €500
Fatores determinantes do custo
A análise de múltiplos casos práticos revela que os custos de legalização são influenciados por:
Dimensão da operação: Construções até 100m² - €2.500-€8.000; superiores a 300m² - €8.000-€25.000
Antiguidade da construção: Obras anteriores a 1980 apresentam custos médios 40% superiores
Localização geográfica: Concelhos metropolitanos registam custos 30-50% mais elevados
Complexidade técnica: Intervenções estruturais aumentam custos em 60-80%
Valorização Imobiliária: O Retorno do Investimento
Impacto direto na Valorização
A legalização de imóveis gera impactos económicos mensuráveis que justificam amplamente o investimento inicial. Estudos de mercado demonstram valorizações consistentes após a regularização:
Valorização Imediata
Imóveis residenciais: aumento médio de 15-25% do valor de mercado
Propriedades comerciais: valorização entre 20-35%
Terrenos urbanizáveis: incremento de 40-60% do valor patrimonial
Valorização a Médio Prazo
Acesso facilitado ao crédito bancário
Eliminação do risco de demolição ou coimas
Possibilidade de ampliação ou alteração futura
Casos práticos de Valorização
Exemplo 1: Moradia T3 na Grande Lisboa
Valor inicial (não legalizada): €180.000
Custo de legalização: €6.500
Valor após legalização: €220.000
ROI: 508% (€33.500 de valorização líquida)
Exemplo 2: Anexo agrícola convertido
Valor inicial: €45.000
Custo de legalização: €3.200
Valor pós-legalização: €75.000
ROI: 837% (€26.800 de valorização líquida)
"A legalização não é um custo, mas um investimento de retorno garantido que elimina riscos e potencia oportunidades futuras."
Análise Económica comparativa
Modelo de Avaliação ROI
Para uma análise económica rigorosa, deve considerar-se a seguinte metodologia:
Fórmula de Cálculo:
ROI = [(Valorização Pós-Legalização - Custos Totais) / Custos Totais] × 100
Componentes da Valorização:
Aumento do valor patrimonial tributário (VPT)
Redução do risco regulatório
Acesso a financiamento em condições preferenciais
Possibilidade de comercialização legal
Cenários de Rentabilidade
Cenário Conservador (ROI 200-400%)
Propriedades em zonas rurais ou periféricas
Construções recentes com desconformidades menores
Custos de legalização elevados face ao valor inicial
Cenário Otimista (ROI 500-1000%)
Imóveis em centros urbanos consolidados
Construções antigas com potencial de valorização elevado
Processos de legalização simplificados
Cenário Excecional (ROI superior a 1000%)
Terrenos com alteração de classificação
Propriedades em zonas de forte pressão imobiliária
Casos de regularização cadastral complexa
Benefícios económicos indiretos
Vantagens Fiscais e Financeiras
A legalização proporciona benefícios económicos que transcendem a valorização imediata:
Otimização Fiscal
Dedução de despesas de valorização nas mais-valias
Enquadramento correto para efeitos de IMI
Possibilidade de depreciação em imóveis de rendimento
Acesso ao Crédito
Hipotecas em condições preferenciais
Crédito para obras de melhoramento
Financiamento de projetos de desenvolvimento
Eliminação de riscos económicos
Custos evitados
Coimas: €1.500 - €200.000 (pessoas singulares)
Custos de demolição forçada
Litígios e processos judiciais
Desvalorização por incerteza jurídica
Considerações estratégicas para Investidores
Timing optimal de Legalização
A análise temporal revela que determinados momentos são mais favoráveis para iniciar processos de legalização:
Fatores favoráveis:
Períodos de simplificação regulamentar
Regimes transitórios benéficos
Condições de mercado propícias à valorização
Indicadores de urgência:
Pressão fiscal crescente
Alterações ao enquadramento legal
Necessidade de transação comercial
Estratégias de maximização do ROI
Abordagem faseada
Priorização por impacto de valorização
Aproveitamento de sinergias entre processos
Otimização de custos técnicos partilhados
Planeamento integrado
Articulação com projetos de reabilitação
Coordenação com outros proprietários
Aproveitamento de programas de apoio
Impacto Macroeconómico da Legalização
Dinamização do setor Imobiliário
A legalização massiva de operações urbanísticas gera efeitos multiplicadores significativos na economia:
Ativação do mercado secundário: Imóveis legalizados representam 60% das transações
Estímulo à reabilitação urbana: Investimento médio adicional de €25.000 por propriedade
Criação de emprego especializado: Crescimento de 15% no setor dos serviços técnicos
Arrecadação fiscal
O processo de legalização contribui substantivamente para as receitas municipais e estatais:
Aumento médio de 35% na arrecadação de IMI
Crescimento de 28% nas receitas de licenciamento
Incremento das receitas de IRS via mais-valias

Riscos e limitações do Investimento
Cenários de ROI negativo
Apesar da generalizada rentabilidade, existem situações onde a legalização pode não ser economicamente viável:
Fatores de Risco:
Exigências de demolição parcial superiores a 40% da construção
Incompatibilidade com instrumentos de gestão territorial
Custos de adequação desproporcionais ao valor base
Mitigação de Riscos:
Consulta prévia junto dos serviços municipais
Análise detalhada de viabilidade técnica
Avaliação alternativa de usos permitidos
Constrangimentos temporais
Prazos médios de processo:
Legalizações simples: 3-6 meses
Casos complexos: 8-18 meses
Situações litigiosas: 24-36 meses
Custos de oportunidade:
Imobilização de capital durante o processo
Impossibilidade de comercialização interina
Depreciação por incerteza temporal
Conselhos práticos para maximizar o retorno
Preparação prévia essencial
Auditoria inicial completa
Levantamento rigoroso da situação legal atual
Identificação de todas as desconformidades
Análise comparativa de custos vs. benefícios
Seleção de Profissionais Qualificados
Arquitetos especializados em legalização
Advogados com experiência em direito urbanístico
Consultores com conhecimento dos regulamentos locais
Otimização de custos
Estratégias de redução:
Agrupamento de processos similares
Negociação de honorários globais
Aproveitamento de elementos técnicos existentes
Calendário financeiro:
Distribuição de pagamentos ao longo do processo
Aproveitamento de condições preferenciais sazonais
Coordenação com fluxos de receitas do imóvel
Perspetivas futuras do mercado
Tendências regulamentares
As alterações legislativas recentes apontam para uma simplificação contínua dos processos de legalização, com impactos positivos na análise custo-benefício:
Redução média de 30% nos prazos de aprovação
Diminuição de 25% nos custos administrativos
Aumento da previsibilidade dos processos
Evolução do Mercado Imobiliário
Fatores de valorização:
Escassez crescente de imóveis legalizados
Pressão regulamentar sobre construções irregulares
Programas governamentais de apoio à habitação
Para considerar
A análise económica detalhada do binómio investimento-valorização na legalização de operações urbanísticas revela um cenário inequivocamente favorável para a maioria dos casos. Com ROI médios superiores a 400% e valorizações patrimoniais consistentes entre 15-35%, o processo de legalização constitui uma das oportunidades de investimento mais seguras e rentáveis do mercado imobiliário português.
A eliminação de riscos regulamentares, combinada com o acesso facilitado ao crédito e a possibilidade de transação comercial, confere à legalização um valor estratégico que transcende os meros indicadores financeiros. Em contexto de mercado imobiliário cada vez mais regulamentado e competitivo, a conformidade legal representa não apenas uma obrigação, mas uma vantagem competitiva decisiva.
Para proprietários e investidores que ainda hesitam em iniciar processos de legalização, os números são claros: o custo de não legalizar supera largamente o investimento necessário à regularização. Com o enquadramento legal em constante evolução e as pressões de mercado a intensificarem-se, a janela de oportunidade para legalização em condições favoráveis pode estar a estreitar-se.
O futuro do mercado imobiliário português será, inevitavelmente, um mercado de propriedades legalizadas. Quem antecipar esta realidade estará em posição privilegiada para beneficiar da valorização consequente e da eliminação progressiva da concorrência irregular.



