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Qualidade e Certificação de materiais de construção: Garantias para projetos seguros

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 23 de jun.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 8 de jul.

A escolha e certificação dos materiais de construção representam uma das decisões mais críticas em qualquer projeto arquitetónico. O Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU) estabelece critérios rigorosos que visam garantir a segurança, durabilidade e qualidade das construções portuguesas. Compreender estes requisitos é fundamental para proprietários, investidores e todos os intervenientes no processo construtivo que pretendem assegurar o sucesso dos seus projetos. A certificação adequada dos materiais não é apenas uma exigência legal - é a garantia de que o seu investimento na construção será duradouro, seguro e conforme às melhores práticas técnicas europeias.


Materiais de construção num estaleiro de obra
Materiais de construção num estaleiro de obra


Exigências essenciais estabelecidas pelo RGEU

O artigo 17.º do RGEU define um conjunto abrangente de exigências essenciais que todos os materiais de construção devem cumprir. Estas exigências visam garantir:

  • Resistência mecânica e estabilidade - capacidade de suportar cargas e solicitações

  • Segurança na utilização - proteção dos utilizadores em condições normais

  • Segurança em caso de incêndio - comportamento adequado face ao fogo

  • Higiene, saúde e proteção do ambiente - materiais não nocivos

  • Proteção contra o ruído - isolamento acústico adequado

  • Economia de energia e isolamento térmico - eficiência energética

  • Acessibilidades - adequação às necessidades de mobilidade

  • Ventilação - qualidade do ar interior


Evolução das Normas de Qualidade

O RGEU estabelece que a qualidade, natureza e modo de aplicação dos materiais devem respeitar as regras de construção e a regulamentação aplicável, garantindo que as edificações satisfaçam todas as condições exigidas. Esta abordagem reflete a evolução das práticas construtivas e a harmonização com as normas europeias.



Sistema de Certificação de Materiais


Marcação CE: Padrão Europeu

A utilização de produtos de construção está condicionada à respetiva marcação CE ou, na sua ausência, à certificação da conformidade com especificações técnicas em vigor em Portugal. A marcação CE representa:


Garantias da Marcação CE

  • Conformidade com normas europeias harmonizadas

  • Livre circulação no mercado europeu

  • Rastreabilidade da origem e características

  • Responsabilidade do fabricante pela qualidade


Procedimento de Marcação

  • Declaração de conformidade emitida pelo fabricante

  • Ensaios obrigatórios conforme normas aplicáveis

  • Controlo de qualidade na produção

  • Etiquetagem com informações técnicas essenciais


Certificação Nacional Alternativa

Na ausência de marcação CE, a legislação prevê a certificação da conformidade com especificações técnicas portuguesas, sempre considerando os certificados de conformidade emitidos por entidades aprovadas em Estados membros da União Europeia.


Reconhecimento Mútuo Europeu

O sistema português reconhece certificados e ensaios realizados por entidades aprovadas em qualquer Estado membro da União Europeia, na Turquia ou em Estados subscritores do acordo do espaço económico europeu, promovendo a harmonização técnica e a livre circulação de produtos.


Símbolo da Marcação CE
Símbolo da Marcação CE

Homologação pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil


Quando é necessária a Homologação

Nos casos em que os produtos de construção não possuam marcação CE nem certificação alternativa, e sempre que a sua utilização possa comportar risco para as exigências essenciais, fica condicionada à homologação pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).



Processo de Homologação


Critérios de avaliação

  • Análise técnica das características do produto

  • Ensaios laboratoriais específicos

  • Avaliação de desempenho em condições reais

  • Verificação da conformidade com exigências essenciais


Documentação necessária

  • Especificações técnicas completas do produto

  • Relatórios de ensaios prévios quando disponíveis

  • Análise de riscos para a segurança

  • Plano de controlo de qualidade da produção


Colaboração Internacional

O LNEC deve cooperar com entidades aprovadas noutros Estados europeus na obtenção e análise de resultados, evitando duplicações desnecessárias de ensaios e promovendo a eficiência do processo.



Materiais adequados por categoria de construção


Materiais para Estruturas

O RGEU especifica que os materiais utilizados devem ser adequados à natureza, importância, caráter, destino e localização das edificações, oferecendo condições suficientes de segurança e durabilidade.


Pedra e Alvenaria

  • Pedra rija obrigatória em paredes de carga dos andares inferiores

  • Tijolo cerâmico maciço de primeira qualidade

  • Alvenaria mista permitida em condições específicas

  • Materiais impermeáveis para fundações e caves


Betão e Aço

  • Betão armado conforme normas estruturais

  • Aço estrutural com certificação adequada

  • Materiais compostos devidamente homologados

  • Sistemas prefabricados certificados



Materiais de Revestimento e Acabamento


Revestimentos Exteriores

  • Materiais impermeáveis para zonas expostas

  • Resistência aos agentes atmosféricos

  • Durabilidade adequada ao ciclo de vida previsto

  • Compatibilidade estética com o ambiente urbano


Revestimentos Interiores

  • Materiais impermeáveis em zonas húmidas

  • Facilidade de limpeza em áreas de preparação de alimentos

  • Resistência ao desgaste em zonas de circulação

  • Propriedades acústicas adequadas



Controlo de Qualidade na aplicação


Responsabilidade Técnica

A qualidade não depende apenas dos materiais, mas também do seu modo de aplicação. O RGEU estabelece que este deve garantir que as edificações satisfaçam todas as condições exigidas, em conformidade com as especificações técnicas do projeto de execução.



Verificação em Obra


Receção de Materiais

  • Verificação da certificação antes da aplicação

  • Inspeção visual das condições de fornecimento

  • Armazenamento adequado para preservar qualidades

  • Controlo de lotes para rastreabilidade


Processo de aplicação

  • Seguimento das especificações técnicas

  • Condições ambientais adequadas durante a aplicação

  • Sequência de trabalhos conforme projeto

  • Controlos intermédios durante a execução


Ensaios de Campo

Quando necessário, podem ser exigidos ensaios específicos para verificação da qualidade da aplicação:

  • Ensaios não destrutivos para verificação de características

  • Testes de aderência em revestimentos

  • Verificação de estanquidade em sistemas impermeáveis

  • Medição de espessuras em isolamentos



Consequências da não conformidade


Riscos Legais

A utilização de materiais não certificados ou inadequados pode resultar em:

  • Recusa de Licenciamento por parte das autoridades

  • Embargo de obra durante a execução

  • Responsabilização civil por danos causados

  • Impossibilidade de obtenção de licença de utilização



Riscos Técnicos


Problemas Estruturais

  • Redução da capacidade de carga das estruturas

  • Degradação prematura dos elementos construtivos

  • Necessidade de reforços dispendiosos

  • Compromisso da segurança dos utilizadores


Problemas de Durabilidade

  • Manutenção prematura e frequente

  • Substituição antecipada de elementos

  • Custos adicionais não previstos

  • Desvalorização do imóvel



Tendências na Certificação de Materiais


Digitalização dos Processos

A evolução tecnológica está a transformar os processos de certificação:

  • Certificados digitais com códigos QR para verificação

  • Bases de dados online de produtos certificados

  • Rastreabilidade digital desde a produção até à aplicação

  • Aplicações móveis para verificação em obra


Sustentabilidade e Economia Circular

Os novos critérios de certificação incluem aspetos ambientais:

  • Pegada de carbono dos materiais

  • Conteúdo reciclado incorporado

  • Reciclabilidade no fim de vida

  • Origem sustentável das matérias-primas



Materiais inovadores


Novos produtos de construção

  • Materiais inteligentes com propriedades adaptáveis

  • Compósitos avançados com desempenho superior

  • Materiais bio-baseados de origem natural

  • Sistemas construtivos industrializados


Desafios de Certificação

  • Normas em desenvolvimento para produtos inovadores

  • Procedimentos acelerados para a inovação

  • Ensaios específicos para novas propriedades

  • Harmonização europeia de critérios



Conselhos práticos para Proprietários


Antes da seleção de materiais


Verificações essenciais

  • Confirmar a marcação CE ou certificação alternativa

  • Verificar a adequação ao uso pretendido

  • Consultar listas de produtos homologados pelo LNEC

  • Solicitar certificados de conformidade atualizados


Critérios de seleção

  • Compatibilidade com o projeto e clima local

  • Durabilidade adequada ao ciclo de vida pretendido

  • Manutenção necessária ao longo do tempo

  • Custo global incluindo aplicação e manutenção



Durante a Aquisição


Documentação necessária

  • Certificados de conformidade originais

  • Declarações de desempenho quando aplicáveis

  • Instruções de aplicação do fabricante

  • Garantias comerciais oferecidas


Verificação de Fornecedores

  • Reputação e experiência no mercado

  • Capacidade técnica para apoio especializado

  • Rede de distribuição e apoio pós-venda

  • Certificação dos próprios fornecedores



Durante a Aplicação


Acompanhamento Técnico

  • Supervisão especializada durante a aplicação

  • Verificação das condições ambientais

  • Controlo da qualidade dos trabalhos executados

  • Documentação de todas as fases de aplicação



Impacto Económico da Qualidade


Investimento Inicial vs. Benefícios a Longo Prazo

A utilização de materiais devidamente certificados representa um investimento que se traduz em múltiplos benefícios:


Vantagens imediatas

  • Facilidade de Licenciamento junto das autoridades

  • Redução de riscos durante a construção

  • Garantias de desempenho fornecidas pelos fabricantes

  • Conformidade legal assegurada


Benefícios a Longo Prazo

  • Durabilidade superior da construção

  • Menores custos de manutenção

  • Valorização do património imobiliário

  • Facilidade de venda ou arrendamento


Análise de Custo-Benefício

A diferença de preço inicial entre materiais certificados e não certificados é frequentemente compensada pela:

  • Redução de problemas durante a obra

  • Eliminação de custos de substituição prematura

  • Melhores condições de financiamento imobiliário

  • Seguros com prémios mais favoráveis



Papel dos Técnicos Especializados


Arquitetos e Engenheiros

Os técnicos responsáveis pelos projetos têm obrigações específicas na seleção e especificação de materiais:

  • Especificação adequada às exigências regulamentares

  • Verificação da disponibilidade de produtos certificados

  • Compatibilidade entre diferentes materiais

  • Supervisão da aplicação conforme projeto


Fiscalização de Obra

A fiscalização especializada é essencial para garantir:

  • Conformidade com as especificações do projeto

  • Qualidade de aplicação dos materiais

  • Resolução de problemas técnicos

  • Documentação para efeitos de garantia



Para considerar


A certificação de materiais de construção representa muito mais do que um requisito burocrático - é a base fundamental da qualidade, segurança e durabilidade de qualquer edificação. O Regulamento Geral das Edificações Urbanas estabelece um enquadramento rigoroso que protege não apenas os investidores e proprietários, mas toda a sociedade que beneficia de um ambiente construído seguro e duradouro.

A harmonização com as normas europeias através da marcação CE e o reconhecimento mútuo de certificações facilita o acesso a produtos de qualidade, promovendo simultaneamente a inovação e a competitividade do setor. O papel do Laboratório Nacional de Engenharia Civil como entidade homologadora garante que mesmo os produtos mais inovadores podem ser incorporados na construção portuguesa, desde que cumpram os mais elevados padrões de segurança.

A evolução tecnológica e a crescente preocupação com a sustentabilidade estão a transformar os critérios de certificação, introduzindo novos parâmetros que consideram não apenas o desempenho técnico imediato, mas também o impacto ambiental ao longo de todo o ciclo de vida dos materiais. Esta abordagem holística beneficia não apenas os utilizadores diretos das edificações, mas também as gerações futuras.

O investimento em materiais devidamente certificados é sempre uma decisão inteligente que se traduz em benefícios tangíveis a curto e longo prazo. A aparente economia inicial resultante da utilização de materiais não certificados é frequentemente uma falsa economia que resulta em custos muito superiores devido a problemas de desempenho, durabilidade e conformidade legal.

A colaboração com técnicos especializados e a escolha criteriosa de fornecedores credíveis são elementos fundamentais para o sucesso de qualquer projeto. A qualidade da construção portuguesa depende do compromisso de todos os intervenientes com a excelência técnica e o cumprimento rigoroso das normas estabelecidas.

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