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Evacuação de Águas Residuais: Sistemas eficientes e seguros para habitações

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 11 de jul.
  • 6 min de leitura

O sistema de evacuação de águas residuais constitui uma das infraestruturas mais críticas de qualquer habitação, sendo responsável pela salubridade e conforto dos ocupantes. O Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU) estabelece diretrizes rigorosas para garantir que estas instalações funcionem de forma eficiente, segura e duradoura, protegendo tanto a saúde pública como o ambiente. Compreender estes requisitos é fundamental para proprietários, construtores e todos os envolvidos na conceção e manutenção de habitações salubres.



Princípios da Evacuação de Águas Residuais


Exigências básicas do RGEU

O artigo 83.º do RGEU estabelece que todas as edificações serão providas de instalações sanitárias adequadas ao destino e utilização efetiva da construção e reconhecidamente salubres. Esta disposição não constitui apenas uma recomendação, mas sim uma obrigação legal que determina padrões específicos de qualidade e segurança.


Objetivo da Regulamentação

As normas visam assegurar que os detritos e águas servidas sejam afastados dos prédios prontamente e por forma tal que não possam originar quaisquer condições de insalubridade (artigo 94.º). Esta abordagem integrada protege simultaneamente:

  • A saúde dos ocupantes das habitações

  • A qualidade das águas subterrâneas e superficiais

  • O funcionamento adequado das redes públicas

  • A preservação do ambiente urbano



"Um sistema de evacuação bem concebido é invisível no quotidiano, mas fundamental para a qualidade de vida e saúde dos ocupantes."


Conceção e Dimensionamento das Canalizações


Requisitos Estruturais

O artigo 90.º do RGEU determina que as canalizações de esgoto dos prédios serão delineadas e estabelecidas de maneira a assegurar em todas as circunstâncias a boa evacuação das matérias recebidas. Os critérios básicos incluem:

Características obrigatórias:

  • Acessibilidade e facilidade de inspeção em toda a extensão

  • Materiais resistentes e adequados ao transporte de efluentes

  • Dimensionamento apropriado aos caudais previstos

  • Proteção do aspeto exterior da edificação


Materiais e Especificações Técnicas

O regulamento proíbe expressamente o emprego de tubagem de barro comum, mesmo vidrada, exigindo materiais de qualidade superior que garantam:

  • Resistência à corrosão e aos agentes químicos

  • Impermeabilidade total

  • Superfície interior lisa para facilitar o escoamento

  • Durabilidade adequada ao uso intensivo


Separação de Águas Pluviais

O artigo 91.º estabelece uma separação fundamental: os tubos de queda das águas pluviais serão independentes dos tubos de queda destinados ao esgoto de detritos e águas servidas. Esta separação:

  • Evita sobrecargas nos sistemas de tratamento

  • Permite o aproveitamento das águas pluviais

  • Reduz riscos de refluxo em situações extremas

  • Facilita a manutenção independente dos sistemas



Proteção contra Emanações e Contaminação


Sistema de Vedação Hidráulica

O artigo 92.º do RGEU exige que qualquer aparelho ou orifício de escoamento seja ligado ao ramal da evacuação por intermédio de um sifão acessível e de fácil limpeza. Este sistema fundamental:

Funções dos sifões:

  • Impede o retorno de gases e odores das canalizações

  • Mantém vedação hidráulica permanente

  • Permite limpeza e manutenção regular

  • Protege a saúde dos ocupantes


Ventilação das Canalizações

O sistema de ventilação, regulado pelo artigo 93.º, constitui um elemento crítico para:

Componentes obrigatórios:

  • Tubos de queda prolongados 50 cm acima do telhado (mínimo 2 metros em terraços)

  • Tubo geral de ventilação em edifícios com múltiplos pisos

  • Ligações adequadas aos ramais de ventilação dos sifões

  • Distanciamento de 1 metro de vãos ou aberturas habitáveis



Ligação à Rede Pública


Obrigatoriedade de Conexão

O artigo 94.º estabelece que toda a edificação existente ou a construir será obrigatoriamente ligada à rede pública de esgotos. Esta obrigação visa:

  • Garantir tratamento adequado dos efluentes

  • Proteger as águas subterrâneas

  • Assegurar gestão integrada dos sistemas urbanos

  • Evitar soluções individuais inadequadas



Ramais de Ligação

O artigo 100.º especifica os requisitos para os ramais de ligação:


Características técnicas:

  • Seções úteis adequadas ao número de aparelhos servidos

  • Inclinações entre 2 e 4 cm por metro para garantir escoamento

  • Construção sólida e facilmente inspecionável

  • Proteção contra refluxo em zonas inundáveis



Soluções para Locais sem Rede Pública


Sistemas de Tratamento Local

O artigo 95.º prevê que, em locais sem coletor público acessível, os esgotos dos prédios serão dirigidos para instalações cujos efluentes sejam suficientemente depurados. As exigências incluem:

Características obrigatórias:

  • Tratamento eficaz dos efluentes

  • Proteção contra poluição do subsolo

  • Sistemas que não causem danos à salubridade pública

  • Desativação obrigatória quando a rede pública chegar


Proibições Específicas

O regulamento interdita categoricamente:

  • Poços perdidos ou dispositivos que poluam o subsolo

  • Descargas diretas em cursos de água sem tratamento adequado

  • Sistemas temporários que comprometam a salubridade pública



Instalações Sanitárias: Localização e Ventilação


Requisitos de Localização

O artigo 85.º determina que as instalações sanitárias das habitações serão normalmente incorporadas no perímetro da construção, em locais iluminados e arejados. Quando tal não for possível:

  • Permitir-se-á localização em espaços contíguos

  • Deve garantir-se acesso fácil e abrigado

  • Não pode prejudicar o aspeto exterior da edificação

  • Deve manter-se a facilidade de manutenção


Ventilação Direta obrigatória

O artigo 87.º estabelece que as instalações sanitárias terão iluminação e renovação permanente de ar asseguradas diretamente do exterior:

Especificações mínimas:

  • Área envidraçada total: mínimo 0,54 m² (medida no tosco)

  • Parte de abrir: mínimo 0,36 m²

  • Ventilação forçada: permitida em casos especiais justificados

  • Proibição absoluta de aparelhos de combustão (ex.: esquentadores a gás)



Equipamentos e Acessórios Obrigatórios


Retretes e Dispositivos de Lavagem

O artigo 88.º especifica que todas as retretes serão providas de uma bacia munida de sifão e de um dispositivo para a sua lavagem. Onde existe rede pública:

  • Autoclismo obrigatório de capacidade conveniente

  • Outros dispositivos que assegurem remoção rápida

  • Sistemas eficientes de descarga controlada

  • Manutenção regular dos mecanismos


Cozinhas e Águas Servidas

O artigo 84.º determina que em cada cozinha é obrigatória a instalação de um lava-louça com:

  • Ramal de ligação com 50 mm de diâmetro mínimo

  • Materiais resistentes a temperaturas até 70°C

  • Escoamento adequado para águas com gorduras

  • Ligação eficaz ao sistema geral de evacuação



Sistemas de Evacuação de Lixos


Edifícios de Múltiplos Pisos

O artigo 97.º exige que edificações com mais de quatro pisos tenham compartimento facilmente acessível para contentores de lixos:

Características obrigatórias:

  • Ventilação adequada do compartimento

  • Facilidade de lavagem frequente

  • Acessibilidade para recolha municipal

  • Isolamento de odores e pragas


Canalizações Verticais

Quando previstas, as canalizações de lixos (artigo 98.º) devem ter:

  • Diâmetro mínimo: 30 centímetros

  • Seção proporcional ao número de inquilinos

  • Bocas de despejo acessíveis em cada piso

  • Inclinação mínima: 45° nos ramais



Manutenção e Conservação Preventiva


Programas de Limpeza

Componentes a manter regularmente:

  • Limpeza e desobstrução de sifões

  • Verificação da vedação hidráulica

  • Inspeção de tubos de queda e ramais

  • Controlo do funcionamento da ventilação


Sinais de Alerta

Os utilizadores devem estar atentos a:

  • Odores persistentes provenientes dos esgotos

  • Ruídos anómalos nas canalizações

  • Escoamento lento ou obstruções frequentes

  • Refluxos ou transbordamentos



Aspetos Ambientais e Sustentabilidade


Proteção dos Recursos Hídricos

O sistema de evacuação bem concebido contribui para:

  • Preservação da qualidade das águas subterrâneas

  • Redução da poluição de cursos de água

  • Gestão eficiente dos recursos hídricos urbanos

  • Proteção da saúde pública a longo prazo


Eficiência Energética

Sistemas modernos permitem:

  • Redução do consumo de água nas descargas

  • Aproveitamento de águas pluviais tratadas

  • Sistemas de bombagem eficientes energeticamente

  • Integração com tecnologias sustentáveis



Responsabilidades e Fiscalização


Obrigações dos Proprietários

A manutenção adequada dos sistemas é responsabilidade dos proprietários:

  • Conservação regular das instalações prediais

  • Limpeza periódica de sifões e ramais

  • Substituição de componentes degradados

  • Cumprimento das normas de ligação à rede pública


Competências Municipais

As Câmaras Municipais têm poder para:

  • Fiscalizar o cumprimento das normas

  • Exigir correções em instalações inadequadas

  • Aplicar sanções por incumprimento

  • Determinar ligações obrigatórias à rede pública



Para considerar


A evacuação eficiente e segura de águas residuais constitui um sistema integrado que vai muito além da simples remoção de detritos e águas servidas. O cumprimento rigoroso das disposições do RGEU garante não apenas conformidade legal, mas também proteção da saúde pública, preservação ambiental e funcionamento duradouro das instalações.

A conceção adequada destes sistemas desde a fase de projeto evita problemas dispendiosos e inconvenientes durante a utilização dos edifícios. O investimento em materiais de qualidade, dimensionamento correto e execução cuidadosa representa sempre uma economia face aos custos de reparações e substituições prematuras.

A manutenção preventiva e a atenção aos sinais de alerta permitem identificar problemas antes que se tornem graves, preservando a funcionalidade dos sistemas e evitando situações de emergência. A formação dos utilizadores sobre o uso adequado das instalações contribui significativamente para a sua durabilidade.

A evolução tecnológica oferece hoje soluções cada vez mais eficientes e sustentáveis, mas os princípios fundamentais estabelecidos no RGEU mantêm total atualidade. A separação de águas, a ventilação adequada, os sistemas de vedação hidráulica e a ligação à rede pública continuam a ser os pilares de uma evacuação segura e eficiente.

O respeito pelas normas de evacuação de águas residuais representa um investimento na qualidade de vida, na proteção ambiental e na valorização patrimonial dos imóveis. Trata-se de um sistema que, embora frequentemente invisível, é fundamental para o funcionamento civilizado e sustentável dos centros urbanos.

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