top of page

Regulamentação atualizada para Habitação Social e Arrendamento Acessível em Portugal

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 22 de jun.
  • 5 min de leitura

O panorama da habitação pública em Portugal tem vindo a evoluir significativamente, especialmente com as recentes alterações ao Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE). Estas mudanças introduzem novos critérios e procedimentos simplificados que visam acelerar a construção de habitação social e facilitar o acesso a arrendamento acessível. Compreender estas alterações é fundamental para proprietários, promotores e investidores que pretendem contribuir para a resolução da crise habitacional portuguesa.

As novas regulamentações para habitação pública e arrendamento acessível representam uma oportunidade única para acelerar projetos sociais e contribuir para soluções habitacionais sustentáveis.


Projeto de Arquitetura de Habitação Acessível em Odivelas, Lisboa
Projeto de Arquitetura de Habitação Acessível em Odivelas, Lisboa


Isenções de Controlo Prévio para Entidades Públicas

O RJUE estabelece um regime especial para operações urbanísticas promovidas por entidades públicas, criando um enquadramento mais ágil para projetos habitacionais sociais. Estão isentas de controlo prévio as operações promovidas por:

  • Autarquias locais e suas associações - em área abrangida por plano municipal ou intermunicipal

  • Estado e institutos públicos - incluindo fundos de investimento imobiliário públicos

  • Universidades e politécnicos - para habitação estudantil

  • Empresas públicas do setor empresarial do Estado - para fins habitacionais específicos


Equipamentos e Infraestruturas Prioritárias

A legislação identifica claramente as tipologias habitacionais que beneficiam de procedimentos simplificados:

  • Habitação para beneficiários de políticas sociais - incluindo habitação de interesse social

  • Residências para estudantes deslocados - resposta ao problema habitacional estudantil

  • Estruturas residenciais para pessoas idosas - adaptadas às necessidades demográficas

  • Parque habitacional do Estado - manutenção e expansão do património público



Procedimentos Simplificados para Habitação Social


Dispensa de Licenciamento

As operações de habitação social beneficiam de isenção de licenciamento quando promovidas por entidades públicas, mas ficam sujeitas a parecer prévio não vinculativo da Câmara Municipal. Este parecer deve ser emitido no prazo de 20 dias, garantindo agilidade processual sem comprometer o controlo urbanístico.



Regime Especial para Cooperativas

O RJUE introduz um regime especial para cooperativas de habitação e outras entidades privadas que desenvolvam projetos habitacionais. Estas entidades podem beneficiar de isenção de controlo prévio quando:

  • O projeto resulte de procedimento concursal público

  • Exista acordo de cedência de terreno por entidade pública

  • O projeto se destine especificamente a fins habitacionais

  • Tenha financiamento público comprovado



Estruturas Residenciais Especializadas

A legislação reconhece a necessidade de resposta a públicos específicos, criando facilidades para:


Pessoas Idosas

  • Residências seniores com apoio público

  • Centros de dia integrados em projetos habitacionais

  • Habitação assistida com serviços de proximidade


Vulnerabilidade Social



Arrendamento Forçado


Conceito e Aplicação

O RJUE introduz o conceito de "arrendamento forçado" como mecanismo administrativo para garantir o aproveitamento de imóveis em situações específicas. Este instrumento permite que entidades administrativas assumam o arrendamento de edifícios pelo prazo necessário para:

  • Ressarcir despesas incorridas com obras coercivas

  • Garantir aproveitamento de imóveis subutilizados

  • Receber rendas de contratos preexistentes ou celebrar novos contratos


Procedimento e Garantias

O arrendamento forçado está sujeito a salvaguardas rigorosas:

  • Prazo estritamente necessário para o efeito pretendido

  • Fundamentação técnica da necessidade da medida

  • Respeito pelos direitos dos proprietários

  • Transparência procedimental em todas as fases



Critérios técnicos para Habitação Acessível


Requisitos de Qualidade

A habitação pública deve cumprir critérios específicos de qualidade, mesmo beneficiando de procedimentos simplificados:


Normas Construtivas

  • Normas técnicas de construção em vigor

  • Regulamento de eficiência energética aplicável

  • Critérios de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida

  • Normas de segurança contra incêndios adequadas


Integração Urbanística

  • Conformidade com planos territoriais municipais e intermunicipais

  • Respeito por servidões e restrições de utilidade pública

  • Inserção adequada no tecido urbano existente

  • Adequação às infraestruturas disponíveis


Responsabilidade Técnica

Mesmo em projetos isentos de Licenciamento, mantém-se a exigência de:

  • Termo de responsabilidade dos técnicos responsáveis

  • Publicitação do início e fim das operações

  • Pagamento de taxas urbanísticas por autoliquidação

  • Cumprimento de prazos de notificação municipal



Vantagens dos Novos Procedimentos


Agilização de Processos

Os procedimentos simplificados para habitação pública oferecem vantagens evidentes:

  • Redução significativa de prazos de aprovação

  • Eliminação de burocracias desnecessárias

  • Simplificação da documentação exigida

  • Maior previsibilidade dos resultados


Incentivos Económicos

O novo regime cria incentivos para o desenvolvimento de habitação social:

  • Regime fiscal favorável em muitos casos

  • Redução de taxas urbanísticas para projetos sociais

  • Financiamento público disponível

  • Parcerias público-privadas facilitadas



Impacto no Mercado Habitacional


Resposta à Crise Habitacional

As alterações legislativas visam responder aos principais desafios habitacionais:


Habitação Estudantil

  • Défice de residências universitárias em centros urbanos

  • Custo elevado do arrendamento privado para estudantes

  • Necessidade de soluções integradas e sustentáveis

  • Parcerias entre instituições de ensino e municípios


Habitação para Idosos

  • Envelhecimento populacional crescente

  • Necessidades específicas de apoio e cuidados

  • Integração comunitária versus institucionalização

  • Soluções inovadoras de habitação assistida


Oportunidades de Investimento

O novo quadro regulamentar cria oportunidades para:

  • Investidores sociais com retorno garantido

  • Cooperativas habitacionais com apoio público

  • Empresas construtoras especializadas em habitação social

  • Fundos de investimento com componente social



Procedimentos práticos de implementação


Documentação necessária

Para projetos de habitação pública, a documentação exigida inclui:


Elementos obrigatórios

  • Identificação da entidade promotora e respetiva natureza

  • Comprovação da natureza pública do projeto

  • Termo de responsabilidade dos técnicos responsáveis

  • Conformidade com instrumentos de gestão territorial


Pareceres e Consultas

  • Parecer da Câmara Municipal quando aplicável

  • Consultas a entidades externas se necessário

  • Pareceres ambientais quando exigidos

  • Aprovações setoriais específicas


Prazos e Tramitação

O novo regime estabelece prazos claros:

  • 20 dias para parecer municipal não vinculativo

  • 5 dias para notificação prévia do início das obras

  • Autoliquidação de taxas antes do início

  • Fiscalização posterior durante a execução


Projeto de Arquitetura de Habitação Acessível vista do interior em Odivelas, Lisboa
Projeto de Arquitetura de Habitação Acessível vista do interior em Odivelas, Lisboa

Desafios de Implementação


Coordenação Institucional

A implementação eficaz do novo regime exige:

  • Articulação entre diferentes níveis de administração

  • Formação técnica dos funcionários municipais

  • Sistemas de informação integrados

  • Procedimentos harmonizados entre municípios


Garantia de Qualidade

Apesar da simplificação processual, é fundamental manter:

  • Padrões de qualidade construtiva

  • Durabilidade das soluções habitacionais

  • Adequação funcional às necessidades dos utilizadores

  • Sustentabilidade ambiental dos projetos



Perspetivas Futuras


Evolução Tecnológica

O setor da habitação pública beneficiará de:

  • Tecnologias construtivas inovadoras

  • Eficiência energética avançada

  • Domótica aplicada à habitação social

  • Materiais sustentáveis e económicos


Modelos de Gestão

Novos modelos de gestão habitacional incluem:

  • Gestão partilhada público-privada

  • Manutenção preventiva sistemática

  • Acompanhamento social integrado

  • Avaliação contínua da satisfação dos utilizadores



Conselhos para Promotores


Preparação de Projetos

Para aproveitar as oportunidades do novo regime:

  • Identificar parcerias com entidades públicas

  • Desenvolver competências em habitação social

  • Conhecer os regulamentos municipais específicos

  • Planear adequadamente os recursos necessários


Gestão de processos

Durante a execução dos projetos:

  • Manter comunicação regular com a Câmara Municipal

  • Respeitar escrupulosamente os prazos estabelecidos

  • Documentar todas as fases do processo

  • Garantir a qualidade da execução



Para refletir


As alterações introduzidas no regime de habitação pública e arrendamento acessível representam um passo significativo na modernização da política habitacional portuguesa. A simplificação de procedimentos, aliada à manutenção de padrões de qualidade, cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de soluções habitacionais inovadoras e socialmente responsáveis.

O novo quadro legal reconhece a urgência da crise habitacional e oferece instrumentos concretos para a sua resolução. A isenção de controlo prévio para entidades públicas, o regime especial para cooperativas e a introdução do arrendamento forçado são medidas que, aplicadas de forma coordenada, podem acelerar significativamente a produção de habitação acessível.

A chave do sucesso destes novos instrumentos reside na sua implementação eficaz e na colaboração entre todos os intervenientes do setor. Proprietários, promotores, técnicos e administração pública devem trabalhar em conjunto para maximizar o potencial destas alterações legislativas, garantindo que as soluções desenvolvidas respondem efetivamente às necessidades habitacionais da população portuguesa.

O futuro da habitação pública em Portugal depende da capacidade de todos os agentes do setor em adaptar-se a este novo paradigma, aproveitando as oportunidades criadas para desenvolver projetos que combinem qualidade, sustentabilidade e responsabilidade social. Investir na compreensão e aplicação destes novos critérios é investir no futuro habitacional do país.


bottom of page