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Construção modular: benefícios, prazos e obrigações legais em Portugal

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 17 de jul.
  • 3 min de leitura
Fabricar em fábrica, montar em obra – o sistema modular acelera a entrega, mas tem de cumprir o RJUE e o RGEU como qualquer edifício tradicional.

Projeto de Arquitetura de habitação unifamiliar modular tipologia T3 em Setúbal
Projeto de Arquitetura de habitação unifamiliar modular tipologia T3 em Setúbal

1 - O que é construção modular?


A construção modular assenta em elementos pré-fabricados (painéis, volumetrias 3D ou “pods”) produzidos em ambiente controlado e ligados entre si no estaleiro. A legislação portuguesa passou a enquadrar expressamente esta solução:

Diploma

Referência à construção modular

Implicação prática

Aplica o regulamento a “construção modular de carácter permanente”

Mesmas regras de salubridade, segurança e acessibilidade que para métodos tradicionais

Coloca a construção modular dentro do regime jurídico da urbanização e edificação

Necessidade de licença ou comunicação prévia, consoante o enquadramento urbanístico

Não distingue sistema construtivo

Obriga a plano de acessibilidade igual aos restantes edifícios

Não menciona, mas tolerâncias podem ser aplicadas a módulos de reabilitação

Útil em legalizações de ampliações modulares em frações existentes


2 - Porque optar por módulos?


  • Prazos 30-50% mais curtos: enquanto o estaleiro recebe infra-estruturas, a fábrica conclui paredes, casas de banho ou quartos completos.

  • Qualidade repetível: ambiente controlado reduz variações e erros de execução.

  • Menos desperdício: cortes CNC e produção “just-in-time” baixam resíduos até 70%.

  • Obra mais limpa e silenciosa: 80% da mão-de-obra fica na fábrica – vizinhos agradecem.

  • Maior segurança: trabalhos em altura e mau tempo quase desaparecem.

  • Possibilidade de desmontagem: alguns sistemas permitem relocalizar ou ampliar o imóvel no futuro.



3 - Quais os requisitos legais chave?


3.1 Licenciamento municipal

  1. Verifique o Plano Director Municipal: se o terreno não tem loteamento ou plano de pormenor, a implantação modular carece de licença (art.º 4.º-2 RJUE).

  2. Em loteamentos ou planos com parâmetros fechados, pode avançar por comunicação prévia (art.º 4.º-4 RJUE).

  3. Construção modular = construção permanente: aplica-se a taxa de infra-estruturas urbanísticas tal como numa estrutura de betão.


3.2 Projetos e responsabilidade técnica

  • Arquitetura + especialidades devem respeitar RGEU, Eurocódigos e demais normas, provando resistência mecânica, isolamento térmico, comportamento sísmico e reação ao fogo.

  • Termos de responsabilidade dos autores de projeto garantem conformidade (art.º 10.º RJUE).

  • Sempre que o módulo seja em aço leve ou madeira engenheirada, inclua cálculo de estabilidade específico para ligações metálicas ou parafusos autoperfurantes em obra.


3.3 Acessibilidades

O edifício modular que receba público ou contenha habitação deve ter:

– Percursos ≥ 1,20 m, portas ≥ 0,77 m, rampas ≤ 6% (DL 163/2006, Anexo).

– Um plano de acessibilidades entregue com o licenciamento.


3.4 Transportes e montagem

  • Autorização de carga especial na IP/ANC exigida para módulos com largura > 2,75 m.

  • Projeto deve prever área de grua ou telescópica e coordenação com trânsito local.

  • O plano de segurança e saúde inclui fase de içamento.


3.5 Marcação CE e LNEC

  • Componentes estruturais em aço ou madeira necessitam de marcação CE ou homologação LNEC (art.º 17.º-3 RGEU).

  • Sem certificação, a autarquia pode travar a licença.



4 - Fases do processo modular

Fase

Duração típica*

Ações principais

Estudo prévio & análise PDM

2-3 semanas

Verificar índice de construção, cércea, servidões

Projeto de licenciamento

4-6 semanas

Arquitetura BIM + especialidades em sistema modular

Aprovação municipal

30-90 dias

Licença ou comunicação prévia conforme art.º 4 RJUE

Produção em fábrica

8-12 semanas

Controlo de qualidade ISO; ensaios de juntas

Infra-estruturas em obra

6-8 semanas

Fundações rasas + ligações de água, esgoto, ITED

Montagem de módulos

5-10 dias

Grua, nivelamento, selagem, ensaios de estanquidade

Acabamentos & vistoria

3-4 semanas

Selagens, ligações elétricas, certificação energética

*Moradia T3 padrão; empreendimentos maiores escalam proporcionalmente.



5 - Conselhos técnicos essenciais


Escolha fábrica certificada EN 1090 (aço) ou ETA (madeira); garante cálculo e soldadura rastreáveis.

Integre energia e MEP nos módulos: reduz ligações em obra.

Planeie logística inversa: sentido de camiões, raio da grua e estacionamento temporário.

Trate fundações cedo: estacas curtas ou laje radier já com ancoragens embutidas.

Confirme classif. energética: a junta horizontal é ponto crítico de infiltração de ar.


Projeto de Arquitetura de Interiores de habitação unifamiliar modular
Projeto de Arquitetura de Interiores de habitação unifamiliar modular

Exemplo prático


Moradia modular T3 em Setúbal, 120 m²:

  1. Licença obtida em 42 dias via comunicação prévia (plano de pormenor).

  2. Fundações e redes concluídas enquanto fábrica produzia 6 módulos volumétricos.

  3. Montagem em 7 dias; vistoria e licença de utilização em 3 semanas.

  4. Orçamento final 12% abaixo do tijolo tradicional e entrada dos proprietários quatro meses antes do previsto.



Para refletir


A construção modular combina velocidade com qualidade controlada, mas só se respeitar o mesmo quadro legal das soluções convencionais. Defina logo no início se o terreno permite comunicação prévia ou exige licença, assegure ensaios e certificações e trabalhe com equipa técnica habituada a coordenar projeto, fábrica e obra.


Pondera adotar módulos no seu próximo projeto? Contacte a equipa da AC-Arquitetos.

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