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Regras Técnicas para Habitação de Custos Controlados

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 14 de set.
  • 4 min de leitura

Portugal dispõe de um extenso quadro normativo que regula a construção habitacional, estabelecendo regras precisas para garantir qualidade, segurança e funcionalidade das habitações. Este conjunto de normas visa assegurar condições dignas de habitabilidade para todos os cidadãos, especialmente quando se trata de habitação destinada a classes sociais com menor poder económico.


Habitação a custos controlados em Loures
Habitação a custos controlados em Loures

O panorama legislativo atual


O sistema normativo português para a construção habitacional assenta em diversos diplomas fundamentais:



As Regras Técnicas para Habitação de Custos Controlados


As Regras Técnicas para Habitação de Custos Controlados (RTHCC) representam uma abordagem pragmática às necessidades habitacionais portuguesas. Estas normas procuram equilibrar:

Qualidade habitacional mínima aceitável

  • Condições de salubridade adequadas

  • Segurança estrutural garantida

  • Funcionalidade dos espaços habitacionais

Controlo de custos de construção

  • Racionalização de materiais e processos construtivos

  • Optimização de áreas e volumes

  • Simplificação de procedimentos técnicos



Dimensões mínimas dos compartimentos

As RTHCC estabelecem parâmetros específicos para as dimensões dos compartimentos habitacionais:


Compartimentos principais

  • Área mínima: 8 m² (exceto casos específicos)

  • Dimensão mínima: 2,10 m em qualquer direção

  • Pé-direito mínimo: 2,35 m (redução face aos 2,70 m do RGEU)


Compartimentos especiais

  • Habitações com menos de 5 compartimentos: pelo menos um com 10,5 m²

  • Habitações com 5 ou mais compartimentos: mínimo de 2 compartimentos com 10,5 m²

  • Cozinhas: área mínima de 5 m² (reduzível a 4 m² em habitações pequenas)


Configuração espacial

  • Forma dos compartimentos: comprimento não superior ao dobro da largura

  • Círculo inscritível: diâmetro mínimo de 1,8 m (reduzível a 1,6 m em cozinhas pequenas)

  • Corredores: largura mínima de 0,9 m



Elementos de Circulação Vertical


Escadas

  • Largura dos lanços: reduzível a 1 m (em edifícios coletivos até 2 pisos ou 4 habitações)

  • Dimensões dos degraus: largura mínima 0,22 m, altura máxima 0,193 m

  • Patins: largura não inferior à dos lanços


Considerações de Segurança

  • Obrigatoriedade de corrimãos em escadas com desnível superior a 0,4 m

  • Materiais antiderrapantes nos degraus

  • Iluminação adequada das zonas de circulação



Infraestruturas e Instalações


Abastecimento de Água e Saneamento

  • Ligação obrigatória às redes públicas quando disponíveis

  • Instalações sanitárias: pelo menos uma casa de banho completa

  • Ventilação: natural ou forçada adequada


Sistemas Elétricos e de Gás

  • Conformidade com normas de segurança em vigor

  • Localização adequada de contadores e quadros elétricos

  • Ventilação específica para aparelhos a gás



Definições essenciais do Decreto Regulamentar n.º 5/2019

O ordenamento jurídico português atual estabelece conceitos técnicos precisos que devem ser aplicados consistentemente:


Parâmetros de Edificação

  • Área de Construção (Ac): somatório das áreas de todos os pisos

  • Área de Implantação (Ai): área ocupada pelo edifício no solo

  • Altura da Edificação (H): dimensão vertical desde a cota de soleira

  • Cércea: altura máxima da fachada


Indicadores Urbanísticos

  • Índice de Ocupação do Solo (Io): percentagem de solo ocupado

  • Índice de Utilização do Solo (Iu): intensidade de edificação

  • Densidade Habitacional: número de fogos por hectare



Aplicação prática


Licenciamento e Procedimentos

As RTHCC integram-se no sistema geral de licenciamento, mas com algumas especificidades:

Comunicação prévia para operações em áreas consolidadas

  • Redução de prazos administrativos

  • Menor complexidade procedimental

  • Responsabilização acrescida dos técnicos

Licenciamento para operações em áreas não planeadas

  • Análise técnica completa

  • Consulta pública quando necessária

  • Verificação de conformidade normativa


Responsabilidades Técnicas

  • Projetista: responsável pela conformidade do projeto

  • Diretor de obra: supervisão da execução

  • Fiscal de obra: verificação da qualidade construtiva



Benefícios e Limitações


Vantagens das RTHCC

Acessibilidade económica

  • Redução significativa dos custos de construção

  • Manutenção de padrões mínimos de qualidade

  • Facilidade de acesso à habitação própria

Simplificação procedimental

  • Procedimentos administrativos mais ágeis

  • Menor complexidade técnica

  • Redução de prazos de aprovação

Flexibilidade adaptativa

  • Adequação a diferentes contextos urbanos

  • Possibilidade de soluções inovadoras

  • Resposta a necessidades específicas locais


Limitações e Precauções

Riscos de qualidade

  • Necessária vigilância na aplicação das normas mínimas

  • Importância da fiscalização durante a construção

  • Verificação de conformidade com outras normas aplicáveis

Contexto urbano

  • Necessidade de integração harmoniosa no tecido urbano

  • Atenção aos impactos na qualidade arquitetónica geral

  • Consideração de infraestruturas urbanas existentes



Modernização do quadro legal


O sistema normativo português tem vindo a evoluir no sentido da:

Digitalização de procedimentos

  • Plataforma eletrónica de procedimentos urbanísticos

  • Desmaterialização de processos

  • Interoperabilidade entre sistemas

Sustentabilidade ambiental

  • Integração de critérios energéticos

  • Promoção de materiais sustentáveis

  • Consideração de impactos ambientais

Acessibilidade universal

  • Cumprimento de normas de acessibilidade

  • Desenho universal na habitação

  • Inclusão de pessoas com mobilidade reduzida



Desafios futuros


Adaptação Climática

  • Resistência a fenómenos meteorológicos extremos

  • Eficiência energética e conforto térmico

  • Gestão sustentável de recursos hídricos


Inovação Tecnológica

  • Integração de novas tecnologias construtivas

  • Sistemas domóticos e inteligentes

  • Materiais de construção inovadores



Para refletir


As Regras Técnicas para Habitação de Custos Controlados representam um equilíbrio necessário entre a garantia de condições dignas de habitabilidade e a realidade económica portuguesa. A sua aplicação requer conhecimento técnico especializado e uma abordagem cuidadosa que não comprometa a qualidade urbanística e arquitetónica dos nossos centros urbanos.

A evolução constante do quadro normativo português demonstra o compromisso com a melhoria contínua das condições habitacionais, mas também a necessidade de adaptação às novas realidades sociais, económicas e ambientais. É fundamental que proprietários, promotores e técnicos mantenham-se atualizados relativamente a estas normas e às suas implicações práticas.

A aplicação adequada destas regras não deve ser vista como uma limitação, mas sim como uma oportunidade para desenvolver soluções habitacionais criativas, funcionais e acessíveis, contribuindo para a construção de cidades mais inclusivas e sustentáveis.

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