top of page

Ventilação e Iluminação Natural: As bases do conforto habitacional

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 29 de jun.
  • 5 min de leitura

O Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU) estabelece critérios precisos sobre ventilação e iluminação natural que determinam a qualidade de vida nas nossas habitações. Estes requisitos, aparentemente técnicos, influenciam diretamente o conforto térmico, a qualidade do ar interior e o bem-estar dos ocupantes. Compreender estas exigências é fundamental para proprietários, construtores e todos os que procuram criar espaços habitacionais salubres e agradáveis.


Conversão de um escritório em Lisboa em habitação
Conversão de um escritório em Lisboa em habitação

Fundamentos da Ventilação e Iluminação no RGEU


Objetivos das Exigências Regulamentares

O RGEU estabelece que a construção ou reconstrução de qualquer edifício deve executar-se de forma que fiquem assegurados o arejamento, iluminação natural e exposição prolongada à ação direta dos raios solares. Esta disposição fundamental, consagrada no artigo 58.º, não constitui uma mera formalidade administrativa, mas sim a base para habitações saudáveis e energeticamente eficientes.


Princípios de Salubridade

As exigências de ventilação e iluminação derivam do princípio fundamental de que todas as edificações devem ser construídas com os requisitos necessários para assegurar condições de segurança, salubridade e estética adequadas à sua utilização. A ventilação natural remove poluentes interiores, controla a humidade e renova o ar, enquanto a iluminação natural contribui para o conforto visual e o bem-estar psicológico dos ocupantes.



"A ventilação e iluminação adequadas não são luxos, mas necessidades fundamentais que determinam a qualidade de vida no interior das habitações."


Exigências de Iluminação Natural


Área Mínima dos Vãos

O artigo 71.º do RGEU estabelece que os compartimentos das habitações devem ser sempre iluminados e ventilados por um ou mais vãos praticados nas paredes, em comunicação direta com o exterior. A área total destes vãos não pode ser inferior a:


Critérios fundamentais:

  • Um décimo da área do compartimento

  • Mínimo absoluto de 1,08 m² medidos no tosco

  • Comunicação direta com o exterior (não através de outros compartimentos)



Varandas Envidraçadas: Condições especiais

Quando as condições climáticas e de ruído justifiquem, o regulamento permite o uso de varandas envidraçadas, consideradas como espaço exterior, desde que cumpridas condições específicas:


Limitações dimensionais:

  • Largura máxima das varandas: 1,80 m

  • Áreas dos vãos dos compartimentos confinantes: mínimo 1/5 da respetiva área e nunca inferior a 3 m²

  • Área do envidraçado da varanda: mínimo 1/3 da área da varanda e nunca inferior a 4,3 m²

  • Área de ventilação do envidraçado: mínimo metade da área total do envidraçado



Distâncias de Proteção

O artigo 73.º estabelece critérios rigorosos para o posicionamento das janelas:


Afastamentos obrigatórios:

  • Distância mínima a muros ou fachadas fronteiros: metade da altura do obstáculo com mínimo de 3 metros

  • Zona livre de obstáculos: 2 metros de cada lado do eixo vertical da janela

  • Garantia do afastamento mínimo em toda a largura de 4 metros



Exigências de Ventilação


Ventilação Transversal Obrigatória

O artigo 72.º do RGEU exige que seja assegurada a ventilação transversal do conjunto de cada habitação, preferencialmente através de janelas dispostas em duas fachadas opostas. Esta disposição visa:

  • Criar correntes de ar que renovem eficazmente o ar interior

  • Eliminar pontos de estagnação

  • Reduzir concentrações de humidade e poluentes

  • Proporcionar arrefecimento natural no verão


Ventilação de Instalações Sanitárias

O artigo 87.º estabelece requisitos específicos para as instalações sanitárias:


Exigências de ventilação:

  • Iluminação e renovação permanente de ar asseguradas diretamente do exterior

  • Área total envidraçada mínima: 0,54 m² medida no tosco

  • Parte de abrir com área mínima: 0,36 m²

  • Sistemas alternativos de ventilação mecânica quando justificado



Ventilação de Cozinhas

As cozinhas merecem atenção especial no RGEU, devendo ser sempre providas de dispositivos eficientes para a evacuação de fumos e gases e eliminação dos maus cheiros (artigo 109.º).



Aspectos Práticos da Implementação


Orientação e Exposição Solar

Embora o RGEU não estabeleça orientações específicas obrigatórias, o regulamento refere a importância da exposição prolongada à ação direta dos raios solares. Na prática, isto traduz-se em:


Boas práticas de orientação:

  • Compartimentos principais virados a sul, sudeste ou sudoeste

  • Evitar orientações exclusivamente a norte em compartimentos de permanência prolongada

  • Aproveitamento da luz natural para reduzir consumos energéticos

  • Proteção solar adequada em orientações muito expostas



Coordenação com outros requisitos

As exigências de ventilação e iluminação devem ser coordenadas com:

  • Isolamento térmico e eficiência energética

  • Proteção acústica, especialmente em zonas ruidosas

  • Segurança contra intrusão

  • Manutenção e limpeza dos sistemas



Soluções Técnicas Modernas


Sistemas de Ventilação Híbridos

Embora o RGEU privilegie a ventilação natural, permite sistemas alternativos quando adequadamente justificados:


Vantagens dos sistemas híbridos:

  • Controlo da qualidade do ar interior

  • Recuperação de calor

  • Filtragem do ar exterior

  • Funcionamento silencioso



Tecnologias de Iluminação Natural


Soluções contemporâneas:

  • Claraboias e tubos de luz natural

  • Prateleiras de luz para distribuição uniforme

  • Vidros de controlo solar

  • Sistemas automatizados de proteção solar


Reabilitação e remodelação de um apartamento em Lisboa
Reabilitação e remodelação de um apartamento em Lisboa

Verificação e Cumprimento


Responsabilidade Técnica

O cumprimento das exigências de ventilação e iluminação deve ser atestado por termo de responsabilidade subscrito por técnico habilitado, garantindo:

  • Conformidade com as áreas mínimas de vãos

  • Adequação dos sistemas de ventilação

  • Verificação das distâncias de proteção

  • Compatibilidade com outros sistemas prediais


Controlo Municipal

As Câmaras Municipais verificam o cumprimento através de:

  • Análise dos projetos submetidos

  • Vistoria durante a construção

  • Vistoria final para Licença de Utilização

  • Fiscalização de alterações posteriores



Implicações na Qualidade de Vida


Benefícios da Ventilação adequada


Saúde e bem-estar:

  • Redução de problemas respiratórios

  • Controlo da humidade e prevenção de bolores

  • Eliminação de poluentes interiores

  • Melhoria da qualidade do sono



Vantagens da Iluminação Natural


Conforto e eficiência:

  • Redução da fadiga visual

  • Regulação dos ritmos circadianos

  • Economia energética significativa

  • Valorização dos espaços interiores



Casos Especiais e Exceções


Edifícios Existentes

Para edifícios anteriores ao RGEU, as adaptações devem procurar aproximar-se dos requisitos atuais sempre que tecnicamente viável, considerando:

  • Limitações estruturais existentes

  • Proteção do património arquitetónico

  • Viabilidade económica das intervenções

  • Soluções alternativas compensatórias


Zonas com Condicionantes Especiais

Em situações específicas, o regulamento prevê tolerâncias quando justificadas:

  • Centros históricos com limitações urbanísticas

  • Edifícios com valor patrimonial

  • Condições topográficas excecionais

  • Garantia de soluções alternativas eficazes



Para considerar


As exigências de ventilação e iluminação natural do RGEU representam mais do que obrigações técnicas – constituem os alicerces de habitações verdadeiramente salubres e confortáveis. Estes requisitos, estabelecidos há décadas, mantêm relevância e atualidade, sendo hoje complementados pela crescente consciência sobre eficiência energética e sustentabilidade ambiental.

A correta implementação destes critérios não só garante conformidade legal, mas também proporciona benefícios tangíveis em termos de saúde, conforto e economia energética. A ventilação natural adequada reduz custos de climatização, enquanto a iluminação natural diminui a dependência de iluminação artificial, contribuindo para a sustentabilidade dos edifícios.

A evolução tecnológica oferece hoje ferramentas cada vez mais sofisticadas para otimizar ventilação e iluminação, mas os princípios fundamentais do RGEU permanecem válidos: garantir que cada habitação tenha acesso adequado ao ar fresco e à luz natural, elementos essenciais para o bem-estar humano.

O investimento no cumprimento rigoroso destas exigências representa sempre uma escolha inteligente, traduzindo-se em habitações mais valorizadas, ocupantes mais saudáveis e custos operacionais reduzidos. A qualidade do ambiente interior é um fator determinante da qualidade de vida, justificando plenamente a atenção dedicada a estes aspetos no projeto e construção de qualquer edifício.


bottom of page