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Acessibilidade e Segurança em Agroturismo: O que precisa saber

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 24 de nov.
  • 4 min de leitura

O agroturismo é uma atividade que ganha cada vez mais adeptos em Portugal. Casarões rurais recuperados, herdades com produção própria, experiências de contacto com a natureza – tudo isto atrai visitantes em busca de autenticidade. Porém, transformar uma propriedade agrícola em espaço turístico implica cumprir normas rigorosas de segurança e acessibilidade, muitas delas definidas pelo Decreto-Lei 163/2006. Compreender estas obrigações é essencial para que o seu projeto funcione legalmente e acolha todos os visitantes em igualdade.


Interiores da Herdade após adaptação às normas de acessibilidade
Interiores da Herdade após adaptação às normas de acessibilidade

Por que a Acessibilidade importa no Agroturismo?


A acessibilidade não é um detalhe. É uma obrigação legal e uma oportunidade de negócio. Quando o seu empreendimento agroturístico é acessível, consegue receber pessoas com mobilidade reduzida, pessoas idosas, grávidas, crianças pequenas e grupos familiares diversos. Isto expande o seu mercado potencial significativamente. Para além disso, o Decreto-Lei 163/2006 estabelece que os estabelecimentos hoteleiros, meios complementares de alojamento turístico e similares devem cumprir normas técnicas de acessibilidade. Não é opcional – é obrigatório. Acessibilidade em agroturismo não é caridade; é obrigação legal que melhora a reputação e expande o potencial comercial do negócio.



O que diz a Lei?


O Decreto-Lei 163/2006 estabelece as normas técnicas para acessibilidade a edifícios e espaços. Aplica-se especificamente aos estabelecimentos hoteleiros, alojamento turístico e afins. Para proprietários de agroturismo, isto significa:


Percurso acessível desde a entrada

Os visitantes devem conseguir chegar facilmente desde a via pública até à entrada principal do alojamento. Isto implica:

  • Passadiços e caminhos adequados: superfícies firmes, estáveis e contínuas

  • Rampas se existirem desnivéis: com inclinação máxima apropriada (6% em geral, 8% em situações de espaço limitado)

  • Largura mínima: pelo menos 1,2 metros para circulação confortável

  • Sinalização clara: indicando entradas acessíveis


Portas e Acessos

As portas de entrada e acesso aos espaços turísticos devem ter:

  • Largura útil mínima de 0,87 metros: medida entre a folha da porta aberta e o lado oposto

  • Zonas de manobra livres: espaço suficiente para uma pessoa em cadeira de rodas rodar

  • Superfícies niveladas: sem ressaltos perigosos


Instalações Sanitárias acessíveis

Este é um dos pontos mais importantes. Pelo menos uma instalação sanitária deve ser completamente acessível:

  • Dimensões adequadas: o espaço interior deve permitir manobra confortável

  • Sanitas acessíveis: à altura correta, com barras de apoio colocadas estrategicamente

  • Lavatórios com espaço livre por baixo: permitindo aproximação de cadeira de rodas

  • Duches acessíveis: com base de duche nivelada ou com pequeno ressalto máximo de 2cm

  • Espelhos a altura apropriada: não demasiado altos

  • Comando de torneiras fácil: que se possam operar com uma mão ou movimento simples


Circulação interior

Os corredores, escadas e espaços interiores devem ser navegáveis:

  • Largura mínima 1,2 metros para corredores principais

  • Escadas com corrimãos em ambos os lados (se vencerem desnivéis superiores a 40cm)

  • Altura do degrau apropriada: máximo 18cm

  • Profundidade do degrau mínimo 28cm

  • Rampas alternativas ou elevadores: quando não é possível usar escadas

  • Iluminação adequada em todos os espaços



Exigências de Segurança


Além da acessibilidade, a segurança é primordial em qualquer empreendimento turístico:


Saídas de Emergência

  • Devem estar claramente sinalizadas

  • Devem ter largura mínima apropriada

  • Não podem estar obstruídas

  • Devem permitir rápida evacuação, inclusivamente de pessoas com mobilidade reduzida


Sistemas de Sinalização

  • Sinais visuais e, onde apropriado, sinais sonoros

  • Informações de emergência claras e acessíveis

  • Planos de evacuação disponíveis para visitantes


Prevenção de Incêndios

  • Sistemas de deteção automática

  • Extintores acessíveis e de fácil utilização

  • Iluminação de emergência

  • Plano de evacuação treino do pessoal


Higiene e Salubridade

  • Cozinhas adequadas com ventilação

  • Águas residuais bem tratadas

  • Abastecimento de água potável garantido

  • Instalações sanitárias mantidas em perfeitas condições higiénicas



Exemplos práticos de implementação


Cenário 1: Casarão rural com alojamento

Um proprietário de um casarão de dois pisos quer converter o rés-do-chão em zona de alojamento turístico e receção.

O que é obrigatório fazer:

  • Criar rampa de acesso exterior com inclinação máxima 6% (se há degraus)

  • Assegurar porta de entrada com largura mínima 0,87m

  • Instalar pelo menos uma instalação sanitária acessível no rés-do-chão

  • Garantir corredores com largura mínima 1,2m

  • Colocar corrimãos em escadas se visíveis

  • Sinalizar claramente as saídas de emergência

Benefício: visitantes com mobilidade reduzida conseguem aceder e usufruir do alojamento confortavelmente.


Cenário 2: Quinta com experiências agrícolas

Um proprietário oferece tours pela quinta, visitas às produções e refeições.

O que é obrigatório fazer:

  • Caminhos com superfícies firmemente pavimentadas (não terra solta)

  • Zonas de repouso ao longo dos percursos (bancos acessíveis)

  • Casas de banho acessíveis junto às áreas de atividade

  • Sinalização clara dos percursos

  • Informação sobre dificuldades (por exemplo, "este percurso é apenas ao nível do solo e é facilmente acessível")

Benefício: toda a família consegue participar nas atividades, incluindo pessoas idosas ou com mobilidade reduzida.


Agroturismo numa Herdade de produção agrícola própria no Alentejo
Agroturismo numa Herdade de produção agrícola própria no Alentejo

Conselhos práticos


Antes de começar

  • Contrate um técnico especializado em acessibilidade: um arquiteto ou consultor que conheça o Decreto-Lei 163/2006

  • Solicite parecer ao município: sobre as exigências específicas para a sua zona

  • Visite estabelecimentos similares: veja como outros resolvem questões práticas de acessibilidade

  • Calcule orçamento para acessibilidade: não deixe para o final; inclua desde o início


Durante a execução

  • Supervise rigorosamente: verifique que a obra cumpre os projetos aprovados

  • Documente tudo: fotografias, relatórios, atestados de conformidade

  • Teste a acessibilidade: convide pessoas com diferentes necessidades de mobilidade a testar os espaços


Após a abertura

  • Manutenção regular: rampas, corrimãos, sinalizações requerem inspeção periódica

  • Formação do pessoal: todos devem compreender como ajudar visitantes com necessidades especiais

  • Feedback: pergunte aos visitantes se os espaços são realmente acessíveis



Ajudas e financiamento


Existem programas que podem subsidiar investimentos em acessibilidade:

  • Programas comunitários europeus (Horizonte Europa, LIFE, etc.)

  • Fundos nacionais para inovação rural

  • Apoios municipais para melhorias de infraestrutura

  • Deduções fiscais para investimentos em acessibilidade

Vale a pena investir tempo em pesquisar estas oportunidades.



Para considerar


Acessibilidade e segurança em agroturismo não são obstáculos burocráticos – são investimentos no sucesso do seu negócio. Um empreendimento acessível atrai mais visitantes, oferece melhor experiência, reduz reclamações legais e melhora a reputação. O Decreto-Lei 163/2006 define os mínimos exigidos; aplicar-se com qualidade é o que diferencia os melhores projetos. O trabalho inicial é considerável, mas os resultados compensam: um espaço seguro, legal, inclusivo e próspero.

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