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Dados Estatísticos nos processos urbanísticos

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 10 de set.
  • 4 min de leitura

Quando falamos de construção e urbanização em Portugal, há um aspeto que frequentemente passa despercebido ao público em geral: a recolha obrigatória de elementos estatísticos. Esta componente, embora técnica, desempenha um papel fundamental no planeamento territorial e na gestão urbana do país.


Parte da primeira página da Ficha INE (Instituto Nacional de Estatística)
Parte da primeira página da Ficha INE (Instituto Nacional de Estatística)


A obrigatoriedade de fornecimento de dados estatísticos em processos urbanísticos tem raízes profundas na legislação portuguesa. O Regulamento Geral das Estradas e Caminhos Municipais, aprovado pela Lei n.º 2110 de 19 de agosto de 1961, estabeleceu alguns dos primeiros marcos legais nesta matéria, definindo responsabilidades claras para as Câmaras Municipais na recolha e gestão de informação territorial.


A recolha sistemática de dados estatísticos não é apenas uma formalidade burocrática, mas uma ferramenta essencial para o desenvolvimento territorial sustentável.

Esta tradição legislativa evoluiu ao longo das décadas, culminando no atual Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE) , que no seu artigo 126.º estabelece claramente as obrigações em matéria de elementos estatísticos.



Que dados são necessários?


Os elementos estatísticos requeridos nos processos urbanísticos abrangem diversas dimensões:


Dados sobre Edificação

  • Tipologia das construções

  • Número de fogos por projeto

  • Áreas de construção (total, implantação, útil)

  • Alturas das edificações

  • Materiais construtivos utilizados


Informação Territorial

  • Localização geográfica precisa

  • Classificação do solo (urbano/rústico)

  • Áreas de intervenção

  • Densidade populacional prevista


Dados Socioeconómicos

  • Estimativas populacionais

  • Caracterização socioeconómica da área

  • Impactos previstos no tecido urbano

  • Necessidades de equipamentos e infraestruturas



A importância dos conceitos técnicos padronizados


O Decreto Regulamentar n.º 5/2019 veio uniformizar os conceitos técnicos utilizados nos domínios do ordenamento do território e urbanismo. Esta padronização é crucial porque:

Garante consistência: Todos os intervenientes utilizam a mesma linguagem técnica

Facilita comparação: Permite análises estatísticas fiáveis entre diferentes projetos

Melhora eficiência: Reduz mal-entendidos e agiliza procedimentos



Conceitos fundamentais


Entre os conceitos mais relevantes para efeitos estatísticos destacam-se:

  • Densidade habitacional: Relação entre número de fogos e área de solo

  • Índice de Ocupação do Solo: Percentagem de solo ocupado por edificação

  • Densidade Populacional: Número de habitantes por unidade de área

  • Área de Construção do Edifício: Somatório das áreas de todos os pisos



Procedimentos e Obrigações


Para Proprietários e Promotores

Quando submete um pedido de licenciamento ou comunicação prévia, deve fornecer:

  1. Elementos de caracterização do projeto

  2. Dados quantitativos sobre a intervenção prevista

  3. Informação sobre impactos territoriais e ambientais

  4. Previsões quanto à ocupação e utilização


Para as Câmaras Municipais

As autarquias têm a responsabilidade de:

  • Verificar a completude e correção dos dados fornecidos

  • Compilar informação estatística municipal

  • Reportar dados às entidades superiores

  • Manter bases de dados atualizadas sobre o território


Para Técnicos e Projetistas

Os profissionais responsáveis pelos projetos devem:

  • Dominar os conceitos técnicos padronizados

  • Calcular corretamente os indicadores urbanísticos

  • Apresentar dados de forma clara e fundamentada

  • Assegurar coerência entre projeto e elementos estatísticos



O impacto na prática profissional


A correta preparação dos elementos estatísticos tem implicações diretas:

Agiliza procedimentos: Processos com dados corretos tramitam mais rapidamente

Reduz custos: Evita pedidos de esclarecimento e reformulações

Previne problemas: Minimiza riscos de indeferimento por falhas técnicas

Valoriza projetos: Demonstra rigor técnico e profissionalismo



Evolução tecnológica e digitalização


A Plataforma Eletrónica dos Procedimentos Urbanísticos mencionada no RJUE representa uma evolução significativa na gestão destes dados. As vantagens incluem:

  • Automatização de cálculos e verificações

  • Padronização de formulários e procedimentos

  • Integração com sistemas de informação geográfica

  • Acessibilidade remota para consulta e submissão


Parte do Anexo 1 da Ficha INE (Instituto Nacional de Estatística)
Parte do Anexo 1 da Ficha INE (Instituto Nacional de Estatística)

Desafios atuais e Tendências futuras


Principais desafios

O setor enfrenta algumas dificuldades na gestão estatística:

  • Fragmentação de dados entre diferentes entidades

  • Falta de interoperabilidade entre sistemas

  • Necessidade de formação técnica especializada

  • Atualizações legislativas frequentes


Tendências emergentes

As principais evoluções em curso incluem:

  • Big Data e análise preditiva urbana

  • Inteligência artificial para validação automática

  • Sistemas de informação geográfica mais avançados

  • Integração com dados de sensores urbanos



Benefícios para o Planeamento Territorial


A recolha sistemática de elementos estatísticos permite:

Planeamento fundamentado: Decisões baseadas em dados objetivos

Monitorização eficaz: Acompanhamento da evolução territorial

Políticas Públicas: Desenvolvimento de estratégias adequadas à realidade local

Investimento orientado: Aplicação eficiente de recursos públicos



Para considerar


Os elementos estatísticos em processos urbanísticos representam muito mais do que uma obrigação legal - constituem a base para um planeamento territorial inteligente e sustentável.

Para proprietários, promotores e investidores, compreender esta dimensão é fundamental para o sucesso dos seus projetos. A qualidade e rigor na apresentação destes dados não só facilita a tramitação processual, como contribui para decisões mais informadas e resultados mais satisfatórios.

A evolução digital e a padronização de conceitos técnicos estão a transformar este domínio, tornando-o mais eficiente e acessível. Manter-se atualizado sobre estas matérias é essencial para todos os intervenientes no processo de construção e urbanização.

O investimento em conhecimento técnico e o cumprimento rigoroso das obrigações estatísticas traduzem-se, invariavelmente, em processos mais fluidos, decisões mais acertadas e projetos de maior qualidade.


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