Estudo de Mobilidade: Planeamento que faz a diferença
- Ana Carolina Santos

- 19 de out.
- 3 min de leitura
Nos últimos anos, o Estudo de Mobilidade ganhou destaque nos processos de licenciamento e planeamento urbano em Portugal. Longe de ser apenas um documento técnico, trata-se de uma peça essencial para garantir que as novas construções, empreendimentos ou alterações urbanas sejam compatíveis com a capacidade das infraestruturas existentes e promovam um território mais funcional, acessível e sustentável.

O que é um Estudo de Mobilidade?
Um Estudo de Mobilidade é um documento técnico que avalia os impactes de uma operação urbanística no sistema de transportes e de circulação de uma determinada área. O seu objetivo é identificar de forma objetiva se as vias, acessos e transportes públicos conseguem suportar a nova ocupação prevista, antecipando problemas e propondo soluções eficazes. Em termos simples, é um instrumento de diagnóstico e planeamento da acessibilidade, tanto para pessoas como para bens e serviços, no contexto de uma intervenção urbana.
Um Estudo de Mobilidade permite garantir que a cidade cresce de forma equilibrada, segura e sustentável.
Quando é obrigatório?
A obrigatoriedade de um Estudo de Mobilidade depende da dimensão e do impacto da operação urbanística. Usualmente, é exigido:
Para projetos de loteamento urbano de grande escala.
Em empreendimentos turísticos, comerciais ou habitacionais com forte impacto no tráfego local.
Sempre que o projeto altere a estrutura viária existente ou implique novos acessos rodoviários.
Por determinação específica dos regulamentos municipais de urbanização e edificação (RMUE) ou planos diretores municipais (PDM).
A sua exigência pode ser semelhante à dos outros estudos técnicos legais exigidos em processo de licenciamento, como o Estudo de Impacte Ambiental ou o Estudo de Ruído.
Principais objetivos
Os principais objetivos de um Estudo de Mobilidade incluem:
Avaliar o fluxo de tráfego atual e futuro;
Identificar constrangimentos à circulação e propor medidas corretivas;
Promover o uso sustentável dos modos de transporte (pé, bicicleta, transporte público);
Assegurar condições de segurança rodoviária e pedonal;
Apoiar a decisão camarária no licenciamento e aprovação do projeto.
Conteúdos essenciais
Um Estudo de Mobilidade deve conter uma análise detalhada do território envolvente e das caraterísticas do empreendimento. Os elementos mais comuns são:
Levantamento da rede viária, acessos e transportes públicos;
Contagens de tráfego e simulações de circulação;
Projeção de fluxos futuros e pontos críticos;
Propostas de reorganização viária, estacionamento e mobilidade suave;
Recomendações técnicas de mitigação e melhoria.
Relação com o RJUE
Embora o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE) não defina especificamente o “Estudo de Mobilidade”, os artigos relativos ao licenciamento e comunicação prévia reforçam que cada operação urbanística deve estar conforme com os instrumentos de gestão territorial e com as condições de acessibilidade urbana e funcionalidade viária.
Na prática, o RJUE regula o controlo prévio e a responsabilização dos técnicos pelos estudos apresentados, garantindo que o Estudo de Mobilidade seja devidamente instruído no processo de licenciamento.
Porque é essencial?
Integrar um Estudo de Mobilidade nos projetos urbanísticos não é apenas cumprir uma exigência da administração – é uma boa prática de planeamento.
Este estudo:
Melhora a qualidade de vida dos utilizadores e moradores;
Reduz acidentes e problemas de congestionamento;
Valoriza o investimento, pela previsibilidade e eficiência urbana;
Reforça a sustentabilidade ambiental e social das intervenções.
Quem o pode elaborar
O Estudo de Mobilidade deve ser elaborado por profissionais qualificados, geralmente engenheiros civis especialistas em transportes e mobilidade, podendo integrar trabalho multidisciplinar com arquitetos e urbanistas, de forma a assegurar uma leitura técnica e territorialmente integrada.
Exemplos práticos
Construção de um centro comercial – exige análise de fluxos de entrada e saída de veículos, rotas de transporte público e dimensionamento de parques de estacionamento.
Novo loteamento habitacional – é avaliada a capacidade das vias locais, segurança pedonal e ligação aos transportes públicos.
Reabilitação urbana em centro histórico – dá prioridade à mobilidade suave e à reorganização do estacionamento existente.
Conselhos para Promotores e Proprietários
Solicite uma análise prévia junto da Câmara Municipal para confirmar se é obrigatório o estudo.
Contrate equipas técnicas experientes que conheçam as exigências locais.
Envolva o arquiteto desde o início – é quem integra as soluções de mobilidade no desenho do projeto.
Planeie o estudo como uma ferramenta de valorização do projeto, não apenas como requisito burocrático.
Para considerar
O Estudo de Mobilidade é mais do que um parecer técnico: é o elo entre o planeamento urbano e a qualidade de vida quotidiana. Um bom projeto arquitetónico deve prever não só o edifício, mas também as formas como as pessoas se deslocam, convivem e vivem o espaço urbano. Para qualquer operação urbanística, a mobilidade é a chave para um crescimento coerente e moderno.



