Alterações Estruturais na sua casa: requisitos legais e passos seguros
- Ana Carolina Santos
- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Quando a intervenção afecta vigas, pilares ou lajes, está em causa a “espinha-dorsal” do edifício. Qualquer erro compromete segurança, valor de mercado e responsabilidade civil. Por isso, o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE) exige controlo prévio mais exigente e técnicos qualificados.
Alterar a estrutura implica licença camarária, projecto de estabilidade e fiscalização especializada – sem atalhos.

1. O que é uma obra de alteração estrutural?
Alteração que modifica as características físicas de um elemento resistente existente:
Substituição ou reforço de vigas / pilares
Abertura de novos vãos em paredes mestras
Demolição de lajes para criar pé-direito duplo
Introdução de mezanines apoiadas nas estruturas actuais
Em termos legais, enquadram-se nas “obras de alteração” (art.º 2.º, al. d) RJUE) – mas carecem de licença quando mexem na estabilidade ou aumentam cércea, área ou volume (art.º 4.º/2/c RJUE).
2. Procedimento obrigatório
Etapa | Quem intervém | Prazo típico* | Observações |
Consulta inicial à Câmara | Proprietário + Arquiteto | 10-20 dias | Pede informação urbanística e confirma limites do PDM |
Levantamento estrutural | Engenheiro civil | – | Inspecção visual, sondagens e relatório de segurança |
Projecto de estabilidade | Eng. autor do projecto | 30-60 dias | Cálculo Eurocódigos, memória descritiva e peças desenhadas |
Licença camarária | Câmara Municipal | 45-90 dias | |
Execução em obra | Empreiteiro + Director de Obra | 3-12 m | Livro de obra, controlo de betões/acieros, provas de carga |
Termo de responsabilidade final | Director de Obra | 0-5 dias | Condição para autorização de utilização (art.º 62.º-A RJUE) |
*Prazos médios em municípios de dimensão média.
3. Documentos essenciais
Projecto de Arquitectura actualizado
Projecto de Estabilidade e plantas de demolição/reforço
Termo de Responsabilidade subscrito por engenheiro inscrito na Ordem dos Engenheiros (art.º 10.º RJUE)
Plano de Segurança e Saúde (DL 273/2003)
Declaração de gestão de resíduos de construção (DR n.º 46/2022)
4. Obrigações em obra
Placa identificativa com Director de Obra (art.º 61.º RJUE).
Livro de Obra actualizado (art.º 97.º RJUE).
Ensaios no terreno (provas de betonagem, soldaduras).
Fiscalização municipal pode exigir ensaios de carga ou parecer adicional (art.º 95.º-96.º RJUE).
Seguro de responsabilidade civil dos técnicos (DL 123/2019).
5. Riscos de ignorar o processo
Infração | Consequência jurídica | Valor indicativo |
Obra sem licença | Contra-ordenação muito grave (art.º 98.º/1) | Até € 44 891,81 |
Falta de director de obra | Coima + embargo | € 2 500 – € 25 000 |
Alteração não declarada | Ordem de demolição ou reposição (art.º 102.º RJUE) | Custos integrais suportados pelo infractor |
Lesões em terceiros | Responsabilidade civil e criminal | Indemnizações + pena de prisão (até 5 anos em caso de colapso) |
6. Conselhos para proprietários
Verifique se há propriedade horizontal – pode precisar de autorização de condomínio.
Planeie contingência no orçamento (10-15%) para reforços inesperados.
Mantenha registos fotográficos semanais – úteis em vistoria ou venda futura.
Concluída a obra, arquive telas-finais: valem na transmissão do imóvel.

Exemplos práticos
Open-space em apartamento T3 (anos 80) – demolição de parede interior sem função estrutural: basta Comunicação Prévia se não afecta estrutura; mas se a parede for de betão, cai em licença e exige laje de reforço.
Ampliação de moradia em betão – laje nova sobre cave existente: precisa de licença; cálculo sísmico actual; provável aumento de IMI após atualização da área.
Substituição de vigas de madeira por metálicas num sótão: projecto estrutural, análise de carga no apoio; ganho de 25% na capacidade de piso; autorização de utilização actualizada sem vistoria se houver termo de responsabilidade final.
Para considerar
Obras que mexem na estrutura são um investimento sério: pedem cálculo rigoroso, licenças em ordem e técnicos acreditados. Poupar no processo legal pode sair caro – em multas, demolições ou, pior, em acidentes.