O acompanhamento técnico do Arquiteto em Comunicação Prévia: Garantia de excelência no Processo Urbanístico
- Ana Carolina Santos

- 14 de out.
- 7 min de leitura
A comunicação prévia representa uma das modalidades de controlo prévio estabelecidas no Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE), constituindo um procedimento simplificado que permite o início imediato de determinadas operações urbanísticas após cumprimento dos requisitos legais. Este instrumento jurídico traduz-se numa forma eficiente de agilizar processos administrativos, dispensando a emissão de atos permissivos formais.
O sistema assenta no princípio da fiscalização sucessiva, conforme estabelecido no artigo 35.º do RJUE, onde a Câmara Municipal mantém a competência para verificar posteriormente a conformidade das operações com as normas legais e regulamentares aplicáveis. Esta abordagem confere maior celeridade aos processos, transferindo parte da responsabilidade de verificação prévia para os técnicos envolvidos.
"A comunicação prévia não elimina a responsabilidade técnica - antes a reforça, exigindo do arquiteto um acompanhamento rigoroso desde a conceção até à execução da obra."

Papel Central do Arquiteto no Processo
Responsabilidade Técnica integrada
O arquiteto assume no processo de comunicação prévia uma tripla responsabilidade que se estende muito além da mera elaboração do projeto de arquitetura. Esta responsabilidade abrange as fases de conceção, desenvolvimento e acompanhamento da execução, constituindo um continuum técnico essencial para o sucesso da operação urbanística.
A Lei n.º 40/2015 estabelece claramente as competências profissionais exigíveis aos técnicos responsáveis, definindo que o arquiteto pode assumir diversas funções:
Elaboração e subscrição de projetos de arquitetura
Coordenação de projetos das várias especialidades
Direção de obra pública ou particular
Direção de fiscalização de obras quando prevista subscrição de termo de responsabilidade
Termo de Responsabilidade: Instrumento de Garantia
O termo de responsabilidade constitui o documento central que materializa o compromisso técnico do arquiteto. Através deste instrumento, o profissional declara que na elaboração do projeto foram observadas todas as normas legais e regulamentares aplicáveis, incluindo:
Normas técnicas de construção em vigor
Conformidade com planos municipais de ordenamento do território
Compatibilidade entre os diversos projetos das especialidades
Observância das servidões administrativas e restrições de utilidade pública
Este documento não representa apenas uma formalidade administrativa, mas sim um compromisso técnico e jurídico que vincula o arquiteto ao cumprimento rigoroso das normas aplicáveis.
Fases do Acompanhamento Técnico
Preparação e Instrução do Processo
A primeira fase do acompanhamento técnico inicia-se muito antes da submissão da comunicação prévia. O arquiteto deve realizar uma análise prévia exaustiva que compreende:
Verificação da viabilidade urbanística: Confirmar que a operação se enquadra efetivamente no regime da comunicação prévia, analisando os parâmetros urbanísticos definidos em instrumentos de gestão territorial
Coordenação com especialidades: Assegurar a compatibilidade entre o projeto de arquitetura e os projetos das várias especialidades técnicas
Consulta a entidades externas: Quando necessário, promover as consultas obrigatórias e acompanhar a obtenção dos respetivos pareceres
Submissão e Validação Técnica
Na fase de submissão, o arquiteto deve garantir que a comunicação prévia é apresentada com todos os elementos obrigatórios:
Projeto de arquitetura completo e devidamente fundamentado
Projetos das especialidades coordenados e compatibilizados
Pareceres de entidades externas quando legalmente exigidos
Documentação relativa ao empreiteiro e direção técnica de obra
Termos de responsabilidade de todos os técnicos envolvidos
Esta fase exige particular atenção à qualidade da documentação técnica, uma vez que eventuais deficiências podem comprometer todo o processo ou gerar problemas durante a execução da obra.
Acompanhamento da Execução
O acompanhamento técnico durante a execução da obra constitui uma das fases mais críticas da intervenção do arquiteto. Nesta etapa, o profissional deve assegurar que a construção se desenvolve em estrita conformidade com o projeto aprovado e com as normas técnicas aplicáveis.
Verificação da conformidade: Controlo regular da execução face ao projeto, identificando e corrigindo desvios
Gestão de alterações: Quando necessárias modificações ao projeto inicial, assegurar o cumprimento dos procedimentos legais estabelecidos no artigo 83.º do RJUE
Coordenação técnica: Articulação com os diversos intervenientes na obra para garantir a qualidade da execução
Responsabilidades específicas do Arquiteto
Supervisão da qualidade construtiva
O arquiteto tem a responsabilidade de verificar sistematicamente se a execução da obra respeita as especificações técnicas definidas no projeto. Esta supervisão abrange não apenas os aspetos estéticos e funcionais, mas também o cumprimento das normas de segurança, salubridade e acessibilidade.
A verificação deve incidir sobre:
Materialização correta das soluções projetuais
Qualidade dos materiais aplicados na construção
Execução adequada dos sistemas construtivos especificados
Conformidade com normas técnicas específicas (térmicas, acústicas, estruturais)
Interface com Entidades Fiscalizadoras
O arquiteto deve manter uma relação colaborativa com os serviços municipais de fiscalização, facilitando as inspeções e fornecendo todos os esclarecimentos técnicos necessários. Esta postura proativa contribui para a deteção precoce de eventuais desconformidades e para a sua correção atempada.
Disponibilização de documentação: Manter organizada e acessível toda a documentação técnica relevante
Resposta a solicitações: Prestar esclarecimentos técnicos sempre que solicitado pelas entidades competentes
Comunicação de alterações: Informar imediatamente sobre qualquer modificação que possa afetar a conformidade da obra
Gestão de não conformidades
Quando detetadas situações de desconformidade com o projeto ou com as normas aplicáveis, o arquiteto deve atuar de forma imediata e eficaz:
Identificação rigorosa da natureza e extensão da não conformidade
Proposta de soluções técnicas adequadas para correção
Acompanhamento da implementação das medidas corretivas
Verificação da eficácia das correções realizadas
Instrumentos de Controlo e Verificação
Planeamento da Fiscalização
O arquiteto deve estabelecer um plano de acompanhamento técnico estruturado, definindo momentos-chave para verificação da obra. Este planeamento deve considerar:
Fases críticas da construção: Momentos em que a verificação é fundamental para prevenir problemas futuros
Periodicidade das visitas: Frequência adequada ao tipo e complexidade da obra
Metodologia de controlo: Procedimentos sistemáticos de verificação e registo
Documentação do Acompanhamento
A manutenção de um registo detalhado do acompanhamento técnico constitui elemento fundamental para comprovar o cumprimento das responsabilidades profissionais:
Relatórios de visita com descrição das verificações realizadas
Registo fotográfico das principais fases da obra
Comunicações técnicas dirigidas ao empreiteiro ou dono da obra
Comprovação da resolução de eventuais não conformidades identificadas
Coordenação com outros intervenientes
Articulação com Projetistas das Especialidades
O arquiteto, enquanto coordenador do projeto, deve assegurar uma articulação eficaz com os projetistas das várias especialidades técnicas. Esta coordenação é essencial para:
Garantir a compatibilidade entre as diferentes soluções técnicas
Resolver interferências entre sistemas construtivos
Assegurar a coerência global da solução arquitetónica
Manter a atualização de todos os intervenientes sobre alterações
Interface com a Direção de Obra
A relação entre o arquiteto e a direção de obra deve ser pautada pela colaboração técnica e pelo objetivo comum de assegurar a qualidade da construção:
Partilha de informação técnica: Disponibilização de todos os elementos necessários para a correta execução
Resolução conjunta de problemas: Análise colaborativa de questões técnicas que possam surgir
Validação de soluções alternativas: Avaliação técnica de propostas de alteração apresentadas durante a obra
Comunicação com o Dono da Obra
O arquiteto deve manter o dono da obra permanentemente informado sobre o desenvolvimento dos trabalhos, prestando conselhos técnicos e alertando para questões relevantes:
Relatórios periódicos sobre o estado de avanço da obra
Alertas precoces sobre potenciais problemas ou desvios
Recomendações técnicas para otimização da qualidade
Orientação sobre decisões que possam afetar o resultado final
Aspetos Legais e Normativos
Enquadramento na Lei 40/2015
A Lei n.º 40/2015 estabelece deveres específicos para os técnicos responsáveis, incluindo a obrigação de acompanhar a execução das obras quando tal seja necessário para garantir a conformidade com o projeto. Esta obrigação legal reforça a importância do acompanhamento técnico sistemático.
Responsabilidade Civil e Disciplinar
O não cumprimento das obrigações de acompanhamento técnico pode gerar responsabilidades diversas:
Responsabilidade civil: Eventual obrigação de indemnizar prejuízos causados por deficiências na fiscalização
Responsabilidade disciplinar: Sujeição a procedimentos disciplinares junto da Ordem dos Arquitetos
Responsabilidade profissional: Impacto na reputação e credibilidade profissional
Conformidade com Normas Técnicas
O acompanhamento técnico deve assegurar o cumprimento de múltiplas normas técnicas:
Regulamentos técnicos específicos (térmico, acústico, segurança contra incêndios)
Normas de construção aplicáveis aos materiais e sistemas construtivos

Inovações Tecnológicas no acompanhamento
Ferramentas digitais de controlo
A utilização de tecnologias digitais pode potenciar significativamente a eficácia do acompanhamento técnico:
Aplicações móveis para registo de vistorias e não conformidades
Sistemas de gestão documental para organização da informação técnica
Plataformas colaborativas para comunicação entre intervenientes
Ferramentas BIM para controlo dimensional e construtivo
Metodologia BIM na Comunicação Prévia
O RJUE prevê já a possibilidade de submissão de projetos em formato BIM, antecipando uma evolução tecnológica que pode revolucionar o acompanhamento técnico:
Controlo dimensional automatizado: Verificação automática de conformidades geométricas
Simulação construtiva: Antecipação de problemas através de modelação 4D
Gestão integrada de informação: Centralização de toda a informação técnica num modelo único
Casos práticos e situações especiais
Obras em Centros Históricos
O acompanhamento técnico em zonas históricas exige cuidados especiais devido às condicionantes patrimoniais:
Verificação do cumprimento de restrições específicas impostas por entidades do património
Controlo da compatibilidade entre soluções técnicas modernas e contexto histórico
Acompanhamento de trabalhos arqueológicos quando necessários
Articulação com técnicos especializados em conservação e restauro
Projetos com sistemas construtivos inovadores
Quando utilizados sistemas construtivos menos convencionais, o acompanhamento técnico deve ser reforçado:
Verificação especializada: Controlo por técnicos com competência específica nos sistemas utilizados
Documentação adicional: Registo detalhado dos procedimentos construtivos especiais
Ensaios de controlo: Realização de testes específicos quando recomendados pelos fabricantes
Construção Modular
O RGEU reconhece especificamente a construção modular, exigindo adaptações no acompanhamento técnico:
Controlo da qualidade dos elementos pré-fabricados
Verificação da montagem e ligações entre módulos
Acompanhamento dos ensaios de estanquidade e outros testes específicos
Validação da conformidade do conjunto após montagem
Para considerar
O acompanhamento técnico do arquiteto em processos de comunicação prévia constitui um elemento fundamental para assegurar a qualidade, segurança e conformidade legal das operações urbanísticas. Esta responsabilidade transcende a mera elaboração do projeto, exigindo uma intervenção técnica continuada e sistematizada ao longo de todo o processo construtivo.
A crescente complexidade do quadro normativo e a exigência de qualidade por parte dos utilizadores tornam indispensável uma abordagem profissional rigorosa, baseada em competências técnicas sólidas e numa compreensão profunda das responsabilidades legais envolvidas.
O sucesso do processo depende da capacidade do arquiteto em articular eficazmente as dimensões técnica, legal e prática da sua intervenção, mantendo sempre presente que a comunicação prévia, apesar de constituir um procedimento simplificado, não diminui em nada a exigência de rigor técnico e conformidade normativa.
A evolução tecnológica e a digitalização dos processos abrem novas possibilidades para otimizar o acompanhamento técnico, mas não substituem a necessidade de competência profissional e responsabilidade técnica por parte do arquiteto.
Face à importância crescente destes processos no panorama urbanístico português, torna-se essencial que os profissionais mantenham uma formação técnica atualizada e desenvolvam competências específicas no acompanhamento de processos de comunicação prévia, garantindo assim a excelência do serviço prestado e a proteção dos interesses dos seus clientes.
A AC-Arquitetos dispõe de uma equipa experiente e qualificada para assegurar um acompanhamento técnico rigoroso e eficaz nos processos de comunicação prévia, desde a fase inicial de conceção até à conclusão da obra, assegurando o cumprimento das normas aplicáveis e a satisfação dos nossos clientes no exigente contexto do direito urbanístico português.



