Quando a Legalização transforma propriedades: Casos reais de valorização imobiliária
- Ana Carolina Santos

- 18 de dez.
- 6 min de leitura
A diferença entre uma propriedade com valor completo no mercado e um imóvel devalorizado em 20 a 30% não está na localização, na metragem quadrada, ou no estado de conservação. Está frequentemente numa questão simples: se está ou não legalmente regularizado. Os números são claros: propriedades com irregularidades urbanísticas perdem centenas de milhares de euros em valor potencial. Contudo, quando essas irregularidades são resolvidas através de legalização, ocorrem transformações financeiras notáveis. Não são histórias anedóticas — são padrões confirmados pelo mercado imobiliário português. Compreender estes casos oferece perspetiva valiosa sobre o verdadeiro impacto económico de regularização.
Uma propriedade ilegal é um ativo incompleto: impossível vender formalmente, impossível hipotecar, impossível transmitir. A legalização transforma-a num ativo completo com valor integral no mercado.

Caso de Estudo 1: Apartamento com ampliação ilegal — Lisboa, Zona Central
Situação Inicial:
Imóvel: T2 (60m²) + ampliação clandestina não autorizada (30m²) criando espaço adicional
Localização: Bairro consolidado, bom acesso, zona com procura
Avaliação pré-legalização: 150.000 euros (considerando apenas os 60m² legais)
O comprador potencial descobre a ampliação ilegal durante a due diligence
O problema: O vendedor não consegue vender formalmente. Nenhum notário aceitará fazer a transmissão com uma ampliação não registada. O banco não financia. Qualquer comprador sério recua porque enfrenta risco de embargo ou demolição. O imóvel fica preso.
Processo de Legalização (12 meses):
Contratação de arquiteto
Consulta municipal prévia
Projeto e documentação
Taxas municipais
Vistoria e ajustes
Custo total de legalização: ~8.200 euros
Situação final: Após aprovação, o imóvel agora tem 90m² legalmente registados (60 + 30 legalizados). A avaliação sobe para 210.000 euros (porque agora tem um espaço total legal).
Impacto Financeiro:
Diferença de valor: 60.000 euros
Custo de legalização: 8.200 euros
Ganho líquido: 51.800 euros
ROI do processo: 632%
O investimento em legalização pagou-se múltiplas vezes apenas no aumento de valor. E o imóvel é agora vendável formalmente.
Caso de Estudo 2: Propriedade Rústica com construção adicional — Alentejo
Situação inicial:
Imóvel: Quinta com 2 hectares, casa principal legal
Construção adicional: Anexo de 80m² construído há 15 anos sem licença (uso como escritório/armazém)
Localização: Rural, com procura emergente
Avaliação pré-legalização: 180.000 euros (apenas terreno + casa)
O problema: O proprietário quer vender para aproveitar a procura crescente em zonas rurais. Mas o anexo não está legalizado. Sem legalização, não pode incluir-se no valor da propriedade. Os compradores desistem porque entendem que há risco de demolição ou que o espaço "extra" não vale formalmente nada.
Processo de Legalização (18 meses): Neste caso, a localização rural e a construção anterior a 1951 (15 anos é tempo suficiente para um regime simplificado) facilitou a aprovação.
Arquiteto especializado em zona
Documentação completa
Taxas municipais (reduzidas em zona rural)
Pequenas obras de conformidade
Custo total: ~8.500 euros
Situação final: O anexo agora é legalmente registado como "anexo adicional" com uso permitido. A propriedade é avaliada em 240.000 euros (terreno + casa + anexo legalizado).
Impacto Financeiro:
Aumento de valor: 60.000 euros
Custo: 8.500 euros
Ganho líquido: 51.500 euros
Além disso, a propriedade tornar-se-á hipotecável para o comprador, facilitando a venda.
Caso de Estudo 3: Habitação com múltiplas irregularidades — Porto
Situação inicial:
Imóvel: Casa antiga (construída 1970) com várias alterações ao longo dos anos
Irregularidades múltiplas: Janelas fechadas modificando a fachada, pequena divisão adicional, alteração de recuos
Avaliação pré-legalização: 95.000 euros (desconto de 30% por irregularidades)
Avaliação teórica se legal: 135.000 euros
O problema: Proprietário herda a casa. Quer vender para liquidar a herança. A casa tem potencial, mas com irregularidades está "maldita" — ninguém quer o risco. O Banco recusa o financiamento. O notário avisa de complicações.
Processo de Legalização (14 meses): Complexidade média — algumas conformidades exigidas.
Arquiteto local experiente
Engenheiro estrutural (consulta)
Documentação completa
Taxas municipais
Pequenas correções (ajustes de janelas, recuos)
Custo total: ~15.500 euros
Situação final:Casa agora está 100% legal. Avaliação sobe para 135.000 euros (o valor potencial).
Impacto Financeiro:
Aumento de valor: 40.000 euros
Custo: 15.500 euros
Ganho líquido: 24.500 euros
Além disso, a herança é transmissível sem complicações jurídicas futuras.
Caso de Estudo 4: Investimento Imobiliário — Covilhã, Reabilitação Urbana
Situação inicial:
Imóvel: Casa antiga em Área de Reabilitação Urbana (ARU)
Status: Construção anterior a 1980 com ampliação não legalizada
Preço de compra (com irregularidade): 45.000 euros
Preço comparável (se legal): 65.000 euros
Estratégia de Investidor: Comprar barato com desconto pela irregularidade, legalizar, revender com valor completo.
Processo de Legalização (10 meses):Em ARU com legislação simplificada.
Arquiteto
Documentação
Taxas municipais (beneficiam de ARU)
Pequenas obras
Custo total: ~5.600 euros
Operação completa:
Compra: 45.000 euros
Legalização: 5.600 euros
Investimento total: 50.600 euros
Venda após legalização: 65.000 euros
Lucro líquido: 14.400 euros
ROI: 28% em 10 meses
Este é padrão de investimento em ARU — buscar propriedades com irregularidades a preço reduzido, legalizar, revender. O benefício fiscal adicional em ARU (IVA reduzido, isenção IMT) torna ainda mais atrativo.
Padrões comuns em todos os casos
Analisando estes casos e dezenas de transações similares, emergem padrões claros:
Impacto no valor:
Imóvel ilegal ou não regularizado: 20-30% desconto no mercado
Após legalização: valor pleno recuperado
Tempo de amortização: Custo de legalização paga-se entre 3-18 meses apenas no aumento de valor.
Mercado: Compradores e bancos têm preço claro para risco — desconto de 25-30% é padrão. Eliminado o risco, esse desconto desaparece instantaneamente.
Oportunidade para Investidores: A discrepância entre o preço com irregularidade e o preço legal é oportunidade: comprar barato, legalizar, revender ao preço real. O lucro é garantido se a legalização for viável.
Variáveis que afetam resultado
Nem todo o cenário de legalização tem ROI idêntico. Variáveis críticas incluem:
Complexidade regulatória:
Legalização simples (anexo pequeno, conformidades menores): 3-8 meses, custo 3.000-8.000 euros
Legalização complexa (múltiplas infrações, necessidade de obras): 12-24 meses, custo 15.000-40.000 euros
Viabilidade: Se a Câmara indicar que a legalização é impossível (violação grave), o projeto não avança. Neste caso, o investimento é perdido.
Localização: Propriedades em zonas de elevada procura (Lisboa, Porto, Algarve) recuperam valor mais rapidamente após legalização. Zonas de menor procura têm recuperação mais lenta.
Estado da propriedade: Se além da irregularidade urbanística, o imóvel tem deficiências estruturais, custos adicionais ocorrem e reduzem o lucro.

Quando a Legalização não compensa financeiramente
Existem cenários onde a legalização não faz sentido economicamente:
Propriedade de valor reduzido com regularização custosa: Imóvel avaliado em 30.000 euros, com legalização custando 12.000 euros — o ganho potencial (5.000-10.000 euros) pode não justificar o tempo e risco.
Legalização impossível: Se a Câmara Municipal indicar que a obra viola criticamente a regulamentação ambiental ou urbanística, a legalização é inviável. A propriedade fica presa, sem valor de mercado.
Mercado estagnado: Zonas com zero procura imobiliária — mesmo a propriedade legal não se vende. Legalizar é custo sem retorno.
Conselhos práticos para avaliar a viabilidade de Legalização
Se está a considerar legalizar a propriedade como investimento:
1. Diagnóstico prévio realista: Contratar um arquiteto para avaliação inicial. Previne investimento maior em projeto inviável.
2. Pré-consulta municipal: Antes de qualquer compromisso, conversar com a Câmara. Indicação clara de viabilidade, evita surpresas.
3. Cálculo de ROI realista: Calcular: valor atual com irregularidade + custo de legalização vs. valor esperado pós-legalização. Se a margem for inferior a 10.000 euros, considere se vale a pena o tempo e risco.
4. Timeline pessimista: Se a Câmara diz 8 meses, projete 14 meses. Atrasos ocorrem. Estruture o financiamento com flexibilidade.
5. Documentação completa: Investir em documentação de qualidade na primeira submissão economiza semanas de retrabalho.
Para considerar
A legalização de propriedades irregulares é um fenómeno económico real em Portugal. Não é lucro especulativo — é simplesmente a recuperação do valor real que a propriedade tem, mas que está bloqueado por irregularidade administrativo-legal.
Os casos apresentados mostram que investidores informados identificam esta oportunidade regularmente. Propriedade comprada com desconto pela irregularidade, legalizada através de processo simples e direto, vendida ao valor completo. O lucro é previsível se a viabilidade for confirmada à priori. A verdade que os dados demonstram: um imóvel ilegal não é "imóvel com problema permanente". É imóvel com problema temporário e solucionável. E a solução tem valor mensurável — frequentemente 30.000 a 60.000 euros por propriedade.
Para proprietários que desejam vender, legalizar não é opção — é necessidade. Propriedade ilegal não tem mercado. Para investidores, legalização é operação com ROI positivo confirmado, desde que a viabilidade seja validada antes do investimento.



