Responsabilidade dos Técnicos de Obra: deveres legais em cada etapa
- Ana Carolina Santos
- 18 de jul.
- 3 min de leitura
Quando um projecto sai do papel, o sucesso da obra depende de vários especialistas com responsabilidades bem delimitadas na lei. Saber quem responde por quê protege o investimento, evita litígios e garante a qualidade final do edifício. Este post sistematiza o essencial sobre a responsabilidade dos técnicos que intervêm em projectos de arquitectura e construção, de acordo com o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE) e restante legislação em vigor.

1. Quem são, afinal, os “técnicos responsáveis”?
Autor de Projecto
Elabora o projecto de arquitectura ou de especialidades.
Assina termo de responsabilidade garantindo conformidade com normas técnicas e regulamentos.
Coordenador de Projecto
Compatibiliza arquitectura com todas as especialidades.
Confirma, por termo de responsabilidade, que não existem conflitos entre as peças desenhadas.
Director de Obra
Coordena a execução em estaleiro, assegurando o cumprimento do projecto licenciado e das regras de segurança.
Identificado à Câmara até cinco dias antes do início dos trabalhos (RJUE, art.º 61).
Director de Fiscalização de Obra
Agente do dono-de-obra que verifica qualidade, prazos e custos.
Pode ser interno ou contratado.
Perito Qualificado (ensaios e certificações)
Responsável por relatórios de comportamento térmico, acústica, segurança contra incêndio, entre outros.
2. Obrigações-chave em cada fase
Fase | Obrigações do técnico | Base legal |
Licenciamento / Comunicação Prévia | Submeter projectos, assinar termos de responsabilidade, respeitar RGEU e demais normas | |
Preparação da Obra | Director de obra e fiscalização registados na Câmara; plano de segurança aprovado | |
Execução | Actualizar livro de obra, reportar alterações ao projecto, garantir conformidade com condições de licença | |
Alterações em curso | Solicitar alteração à licença antes de executar; novo termo de responsabilidade | |
Conclusão | Emitir declaração de conformidade, coordenar telas finais e garantir remoção de estaleiro | |
Garantia pós-obra | Responder por defeitos de projecto (10 anos) ou execução (5 anos), consoante o caso |
3. Responsabilidade civil, contra-ordenacional e disciplinar
Civil
Reparação de danos por erros de projecto ou deficiências construtivas que afectem a segurança ou funcionalidade.
Coberta por seguro obrigatório de responsabilidade profissional.
Contra-ordenacional
Multas até €225 000 para empresas se houver violação de normas urbanísticas (RJUE art.º 98.º).
Possíveis sanções acessórias: suspensão de alvará, interdição de exercício e publicitação da infracção.
Disciplinar / Profissional
Ordens profissionais podem instaurar processos disciplinares por negligência grave.
Suspensão ou cancelamento da inscrição.
4. Como os técnicos se protegem (e protegem o dono-de-obra)
Conselhos pragmáticos:
Formalizar tudo: termos de responsabilidade, actas de reunião, relatórios fotográficos.
Seguros adequados: verifique capitais mínimos e coberturas de defesa jurídica.
Planear auditorias internas em fases críticas (fundações, estrutura, instalações especiais).
Actualizar projectos “as built” continuamente para evitar divergências nas telas finais.
Comunicar alterações à Câmara antes de executar; evita o risco de embargo.
Promover formação periódica em segurança, sustentabilidade e normativa técnica.
5. Riscos frequentes e quem responde
Desconformidade estrutural– Culpa principal: autor do projecto de estabilidade e director de obra.
Falta de acessibilidades previstas no DL 163/2006– Autor de projecto de arquitectura e coordenador são responsáveis.
Incumprimento acústico ou térmico– Responsabilidade partilhada entre projectista de especialidade e director de fiscalização.
Acidente em estaleiro– Director de obra responde por segurança; dono-de-obra pode ser co-responsável se não nomear coordenação SPS.
Alterações não licenciadas– Director de obra e dono-de-obra sujeitos a coima e embargo.

6. Boas práticas para Donos-de-Obra
Conselhos essenciais:
Seleccione técnicos inscritos em ordens profissionais e com seguro válido.
Exija cronograma de entrega de projectos e revisões.
Peça orçamento detalhado das especialidades para evitar surpresas.
Mantenha reuniões quinzenais com actas assinadas.
Reserve 5-10% do orçamento para imprevistos e melhorias de qualidade.
Para considerar
A clareza na atribuição de responsabilidades é a melhor garantia de que o seu edifício será sólido, legal e duradouro. Cada técnico tem deveres definidos — e sanções à altura — mas o verdadeiro sucesso nasce da coordenação entre todos. Escolha profissionais qualificados, documente cada passo e exija cumprimento escrupuloso da lei: só assim a arquitectura transforma investimento em valor patrimonial.
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