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Vistoria Técnica obrigatória: quando e porquê deve ser feita?

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 6 de jul.
  • 3 min de leitura

A Portaria n.º 243/84 continua a ser a bússola legal para quem pretende legalizar ou reabilitar um edifício clandestino em Portugal. O seu ponto fulcral? A vistoria técnica municipal – um exame obrigatório que determina se o imóvel cumpre, ou pode vir a cumprir, as chamadas “condições mínimas de habitabilidade”. Este post explica, de forma pragmática, quando essa vistoria se impõe, porquê é indispensável, e como se preparar para ela.


Reabilitação e legalização de uma casa antiga, vista do interior
Reabilitação e legalização de uma casa antiga, vista do interior

“Sem vistoria técnica não há legalização: é ela que valida a segurança e a habitabilidade do edifício clandestino.”


Quando é exigida a vistoria técnica?


  1. Edifícios clandestinos de habitação: Sempre que o imóvel tenha sido construído sem licença e se pretenda integrá-lo no parque habitacional legal.

  2. Construções contíguas a edifícios clandestinos: Se a obra vizinha possa colocar em causa a segurança ou a salubridade do conjunto edificado.

  3. Pedidos de reconversão ou reabilitação ao abrigo da Portaria 243/84: A vistoria é condição prévia obrigatória antes de qualquer aprovação camarária.



Porquê esta vistoria é incontornável?

Objetivo da vistoria

O que está em causa

Impacto para o proprietário

Segurança estrutural

Resistência de paredes, coberturas e fundações

Evita riscos de colapso e responsabilizações futuras

Habitabilidade mínima

Áreas, pé-direito, ventilação e iluminação

Garante conforto básico e prevenção de doenças

Ligações às infra-estruturas

Possibilidade de água, saneamento e electricidade

Permite obter licença de utilização e contratos de serviços

Viabilidade económica

Custos estimados das correções exigidas

Ajuda a decidir se vale a pena avançar com o processo


O que a vistoria analisa em detalhe?


  1. Áreas de compartimentos

    • Nenhum compartimento abaixo de 8 m²

    • Pelo menos um (ou dois) com ≥ 10,5 m² consoante o nº de divisões

    • Tolerância de 7 m² para 1 ou 2 divisões em casas maiores

  2. Cozinha

    • Mínimo 5 m² (4 m² em habitações muito pequenas)

    • Proporção ≤ 2:1 e círculo inscrito de 1,6 m

  3. Pé-direito

    • 2,35 m no mínimo (metade da área em sótãos)

  4. Circulação

    • Corredores ≥ 0,9 m

    • Escadas comuns: lanços ≥ 1 m; degraus 22 cm × 19,3 cm máx.

  5. Instalações sanitárias

    • Aceita-se apenas 1 casa de banho completa em casas até 4 compartimentos



Como preparar o imóvel para a vistoria?

Passo

Ação recomendada

Responsável

Quando fazer

1

Confirmar se o edifício tem acesso independente e pode ligar-se às redes públicas

Proprietário + Arquiteto

Antes de pedir vistoria

2

Reunir plantas, fotografias e documentação existente

Arquiteto

1-2 semanas antes

3

Resolver riscos imediatos (fissuras, infiltrações graves)

Empreiteiro

Imediatamente

4

Limpar áreas de difícil acesso e desobstruir vãos

Proprietário

Dia anterior

5

Acompanhar a visita e esclarecer dúvidas in loco

Arquiteto/Eng.º

Dia da vistoria


Consequências da vistoria


  • Parecer Favorável: Receberá uma lista de pequenas adequações a cumprir, avançando depois para o projecto de legalização simplificado.

  • Parecer Condicionado: Exigirá intervenções estruturais ou de salubridade mais profundas. Será necessário apresentar projecto de alterações e executar as correções antes da Licença de Utilização.

  • Parecer Desfavorável: A Câmara pode recusar a legalização, sugerir demolição parcial ou integral, ou indicar que o custo de reconversão é desproporcionado.



Conselhos técnicos essenciais


  • Planeie por fases — comece pela estabilidade e redes de água/esgoto, só depois pense em acabamentos.

  • Mantenha áreas livres — desobstruir corredores e escadas facilita a vistoria e melhora a segurança.

  • Documente tudo — fotografias “antes e depois” ajudam a demonstrar cumprimento de exigências.

  • Consulte profissionais qualificados — um arquitecto especializado acelera todo o processo e evita surpresas técnicas.


Reabilitação e legalização de uma casa clandestina, vista do interior
Reabilitação e legalização de uma casa clandestina, vista do interior

Exemplo prático


Imagine uma moradia clandestina na periferia de Lisboa, construída nos anos 90:

  1. Mede a sala com 9 m² e dois quartos com 7 m² cada.

  2. Antes da vistoria, remove uma parede interior para fundir os quartos num único espaço de 14 m² e alarga a porta para 80 cm.

  3. Actualiza a cozinha, elevando-a para 5,2 m² e instala ventilação natural.

  4. A vistoria confirma agora o cumprimento das áreas mínimas e emite parecer favorável, permitindo avançar para o licenciamento de utilização.



Para refletir


A vistoria técnica não é um obstáculo burocrático; é o mecanismo que transforma uma construção clandestina num lar seguro, salubre e legal. Preparar-se bem para esta avaliação significa poupar tempo, evitar custos inesperados e, sobretudo, proteger quem aí vive.


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