Licenciamento Urbanístico: O que muda nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira?
- Ana Carolina Santos

- 18 de ago.
- 3 min de leitura
O licenciamento urbanístico em Portugal, embora regulado por uma legislação nacional comum, apresenta especificidades relevantes quando olhamos para as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Neste post, explicam-se as diferenças fundamentais nestes territórios e os aspetos práticos que importa valorizar em projetos de arquitetura e urbanismo locais.

Enquadramento geral do Licenciamento Urbanístico
Em todo o território nacional, o regime jurídico base das operações urbanísticas está definido pelo Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro (RJUE), aplicável também, em regra, às Regiões Autónomas. As operações urbanísticas abrangem:
Construção nova
Reconstrução
Ampliações
Alterações e demolições
Obras de urbanização, loteamento e remodelação de terrenos
No entanto, tanto nos Açores como na Madeira, existe a possibilidade de adaptação regional do regime, podemos encontrar regimes próprios em matérias como taxas, procedimentos, e regulação sectorial, ajustadas a realidades sociais, económicas e ambientais distintas.
Regiões Autónomas: O que é diferente no Licenciamento?
1. Adaptação Regional do RJUE
Embora o RJUE se aplique como regime-base, o próprio diploma e alguns instrumentos complementares preveem expressamente que as Regiões Autónomas podem adaptar procedimentos, critérios ou requisitos a nível regional. Isto destina-se a responder às necessidades e particularidades locais, nomeadamente:
Diferenças morfológicas (ilhas, topografia, acessibilidade)
Valorização do património natural e cultural específico
Salvaguarda dos ecossistemas insulares
Exemplos típicos de Adaptação Regional
Procedimentos digitais e tramitação adaptada à insularidade e distância dos serviços centrais
Limites de cércea e volumetria compatíveis com a escala urbana insular
Critérios reforçados de proteção de paisagem e património cultural
2. Regulamentos e Regulamentação Municipal específica
Além da base legal nacional e regional, cada município nas Regiões Autónomas pode dispor de regulamentos próprios de urbanização e edificação, por vezes ainda mais detalhados do que no continente. Estes instrumentos regulam, de forma autónoma:
Taxas municipais de licenciamento
Normas sobre afastamentos, logradouros e áreas ajardinadas
Condições de ocupação do solo, volumetria e integração paisagística
Processos de consulta e participação pública
É fundamental conhecer o regulamento municipal de cada ilha/cidade antes de avançar, dado que os critérios podem ser mais ajustados à realidade local e beneficiar de tolerâncias ou exigências acrescidas.
3. Tempos e dinâmicas dos processos de Licenciamento
Os tempos de resposta administrativa podem variar consideravelmente — não só entre o continente e as ilhas, mas também entre diferentes municípios insulares. Fatores a considerar:
Cartas municipais com mecanismos de tramitação eletrónica próprios
Exigência de pareceres ou consultas a entidades regionais (Direcção Regional do Ordenamento do Território, Ambiente, Cultura)
Prioridade a adaptações para a reabilitação do edificado histórico insular
O sucesso do projeto, nestas geografias, depende frequentemente de um conhecimento prático das entidades locais e dos mecanismos de tramitação típicos de cada município.

Itens chave para Licenciamento nas Regiões Autónomas
Confirmar sempre a legislação regional aplicável: Consulte o decreto-lei e respetivas adaptações regionais em vigor.
Consultar os regulamentos municipais: Podem alterar requisitos mínimos (alturas, áreas, estéticas, etc.).
Verificar procedimentos simplificados: Algumas ilhas dispõem de processos eletrónicos de submissão mais acessíveis.
Tendo em vista a insularidade: Há casos em que se prevêem prazos ou tolerâncias específicas para salvaguardar os interesses do desenvolvimento local e da preservação ambiental.
Particular atenção ao património e paisagem: Muito relevante nos Açores e Madeira, pode condicionar não só volumetrias mas até os próprios materiais a utilizar.
Cautela nos processos de legalização: A adaptação normativa frequentemente cria especificidades e tolerâncias para regularização de construções pré-existentes que não cumprem totalmente os requisitos do continente.
Acompanhamento técnico local é fundamental: Invariavelmente, os trâmites bem-sucedidos passam por profissionais com conhecimento direto das práticas e exigências do território.
Diferenciação Legislativa – Destaques práticos
Aspeto | Continente | Regiões Autónomas (visão geral) |
Base legal | RJUE (nacional) | RJUE com adaptações regionais específicas em legislação complementar |
Regulamentação municipal | Altamente relevante | Essencial e por vezes prevalente sobre orientações nacionais |
Procedimento digital | Em expansão | Algumas singularidades e plataformas próprias adaptadas à insularidade |
Critérios patrimoniais | Importantes | Cruciais, com maior ênfase e restrição nos planos insulares |
Regularização pré-existente | Processo comum | Tolerâncias e adaptações específicas regionais |
Para considerar
O licenciamento urbanístico nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, embora formalmente alinhado com o continente, vive de nuances e adaptações legais marcadas tanto pela insularidade, como pela necessidade de preservação do património e de integração paisagística. O segredo para um processo ágil e bem-sucedido nestes cenários passa por:
Dominar a legislação nacional e regional
Acompanhar continuamente os regulamentos municipais
Apostar na assessoria de profissionais experientes, capazes de antecipar especificidades legais e de promover uma articulação eficaz com as entidades locais



