Alterar a fachada: saiba quando a Câmara tem de autorizar
- Ana Carolina Santos
- 15 de jul.
- 3 min de leitura
Sempre que a obra mude a imagem exterior do edifício – cor, materiais, vãos ou volumetria – é provável que precise de licença camarária.
A fachada é o “cartão-de-visita” de qualquer edifício: define identidade urbana, influencia valor de mercado e, sobretudo, é regulada por normas legais que protegem segurança, património e harmonia paisagística. Antes de avançar com pintura nova, substituição de vãos ou painéis solares, é essencial perceber se se trata de obra sujeita a licenciamento ou se basta comunicar a intervenção à Câmara.

Porque a lei vigia a fachada?
– Garante segurança estrutural quando se removem elementos portantes.
– Preserva o património arquitectónico em zonas históricas ou edifícios classificados.
– Mantém a coerência urbana definida nos planos municipais.
– Evita riscos de infiltrações e incêndio quando se aplicam novos materiais.
– Valida a eficiência energética exigida pelo SCE (Sistema de Certificação Energética).
Quando é obrigatória a autorização municipal?
Segundo o RJUE (Decreto-Lei 555/99, art.º 4.º) e a Portaria 243/84 para clandestinos legalizados, a licença é indispensável nas seguintes situações:
Intervenção | Enquadramento legal | Motivo |
Abrir ou fechar vãos (janelas, portas) | Licença (art.º 4.º 2-c) | Altera estabilidade e estética |
Substituir revestimentos com mudança de aparência (por ex., azulejo → ETICS) | Licença (art.º 4.º 2-i) | Muda material e cor da fachada |
Isolar pelo exterior (capoto) | Licença se visível da via pública | Aumenta espessura e volume |
Aplicar painéis solares salientes >1 m | Licença (art.º 6.º-A g, fora isenção) | Acréscimo volumétrico |
Intervir em imóvel classificado ou em zona de proteção | Licença + parecer DGPC | Proteção patrimonial |
Aumentar ou recuar varandas, marquises | Licença completa | Modifica área e cércea |
Intervenções dispensadas de controlo prévio
A lei flexibiliza pequenas operações desde que não alterem a “imagem” original nem prejudiquem segurança:
– Pintura na mesma cor e textura.
– Limpeza de fachadas sem remoção de revestimentos.
– Substituição de janelas por modelos idênticos (desenho, cor) visando melhoria energética — Art.º 6.º-A h RJUE.
– Reparações pontuais de reboco ou cantarias com materiais iguais.
Se a obra se enquadrar nestes casos, basta garantir qualidade técnica e manter registos fotográficos.
Passo a passo para licenciar a alteração de fachada
Levantamento fotográfico detalhado– Registe estado actual, áreas e materiais.
Projecto de arquitectura– Desenhos à escala 1:50/1:100, cortes e alçados.
Termo de responsabilidade– Subscrito por arquitecto, garante cumprimento do RJUE e do RGEU.
Submissão digital na Plataforma Urbanística Municipal– Inclua memória descritiva, mapa de acabamentos e estimativa de custos.
Pareceres externos (quando aplicável)– DGPC para património, CCDR para servidões.
Despacho municipal– Prazo legal: 30-90 dias consoante o impacto (art.º 23.º RJUE).
Execução e fiscalização– Livro de obra actualizado; alterações de cor requerem aditamento.
Licença de utilização actualizada– Vistoria final valida classe energética nova, se a área útil variar.
Conselhos técnicos essenciais
Escolha materiais compatíveis: ETICS exige perfis de remate e fixação mecânica para evitar fissuração.
Respeite a paleta cromática local: muitos centros históricos têm carta de cores obrigatória.
Integre soluções passivas: brise-soleil ou lâminas orientáveis podem dispensar ar condicionado.
Coordene impermeabilização e ventilação: novas camadas devem permitir difusão de vapor, evitando bolores.
Actualize o Certificado Energético: mudança de caixilharias ou isolamento altera a classe.

Exemplo prático
Prédio dos anos 50, Lisboa: projecto de isolamento pelo exterior mais janelas PVC.
– Aumento de espessura da fachada 12 cm → licenciamento obrigatório.
– Cores aprovadas: RAL 1015 (bege) para reboco, molduras brancas.
– Obra concluída em 5 meses; classe energética sobe de D para B-, consumo anual reduz -35%.
Para refletir
Alterar a fachada é mais do que renovar estética: é intervir no património comum da cidade. Licenciar correctamente evita coimas, embargos e retrabalho, assegurando que o edifício ganha eficiência e valor sem perder identidade.
Vai renovar a fachada do seu imóvel e quer garantir conformidade total? Contacte a equipa da AC-Arquitetos.