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Estratégias práticas para garantir conformidade legal do seu projeto

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 13 de jul.
  • 4 min de leitura

O cumprimento da legislação vigente é o pilar fundamental de qualquer projeto de arquitetura bem-sucedido. Com as recentes alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 10/2024 e a progressiva transição para o novo Código da Construção, os proprietários e investidores enfrentam um quadro regulamentar em evolução que exige conhecimento especializado e rigor técnico para evitar atrasos, custos inesperados e problemas legais.



"A conformidade legal não é apenas um requisito burocrático – é a garantia de que o seu investimento está protegido e valorizado a longo prazo."



O que mudou em 2024

O Simplex Urbanístico trouxe transformações significativas que simplificam alguns procedimentos mas reforçam a responsabilização técnica. As principais alterações incluem:

  • Prazos fixos para licenciamento: 120 dias para obras até 300m², 150 dias para áreas entre 300-2200m², e 200 dias para obras maiores

  • Eliminação do alvará de construção: substituído por recibo de taxas

  • Novas isenções de controlo prévio: obras que não alterem fachadas ou aumentem cérceas

  • Deferimento tácito: projetos podem avançar se as Câmaras ultrapassarem prazos estabelecidos


Aplicação atual do RGEU

O Regulamento Geral das Edificações Urbanas mantém-se em vigor até junho de 2026, cobrindo aspetos fundamentais como:

  • Condições gerais de salubridade, segurança e estética

  • Requisitos técnicos para fundações, paredes e coberturas

  • Normas para instalações sanitárias e abastecimento de água

  • Dimensões mínimas de compartimentos e pés-direitos



2. Requisitos técnicos fundamentais


Características construtivas obrigatórias

Elemento

Requisitos RGEU

Observações práticas

Fundações

Penetração mínima 50cm em terreno firme

Estudos geotécnicos podem ser exigidos

Paredes

Espessuras variáveis conforme altura e material

Justificação técnica necessária para reduções

Pé-direito

Mínimo 2,40m habitação, 3m comércio

Exceções para espaços secundários (2,20m)

Instalações sanitárias

Área mínima 3,5m² a 6m² conforme tipologia

Eliminada obrigatoriedade de bidé

Ventilação

Vãos mínimos 1/10 da área do compartimento

Sistemas mecânicos podem substituir ventilação natural


Materiais e qualidade construtiva

A escolha de materiais deve observar:

  • Marcação CE obrigatória para produtos de construção

  • Certificação LNEC para materiais não harmonizados

  • Resistência ao fogo conforme regulamentação específica

  • Isolamento térmico e acústico adequado ao clima local

  • Durabilidade compatível com a utilização prevista



3. Processo de licenciamento: etapas críticas


Documentação essencial

Para garantir aprovação sem contratempos:


Projeto de Arquitetura

  • Plantas, cortes e alçados com cotas precisas

  • Memória descritiva detalhada

  • Estimativa de custos atualizada

  • Calendarização da execução


Termos de Responsabilidade

  • Declarações dos autores de projeto

  • Certificação de conformidade com normas aplicáveis

  • Justificação de soluções não convencionais


Estudos Complementares

  • Plano de acessibilidades (quando aplicável)

  • Avaliação de vulnerabilidade sísmica (construções existentes)

  • Conformidade com Regulamento Geral do Ruído


Estratégia de submissão

  • Informação prévia: Válida por 2 anos (antes 1 ano), reduz riscos de rejeição

  • Comunicação Prévia: Para obras em zonas com plano aprovado

  • Licenciamento: Obrigatório para novas construções fora de áreas urbanas consolidadas



4. Preparação para o futuro: BIM obrigatório


Transição tecnológica programada

A partir de 2030, todos os projetos de arquitetura devem ser submetidos em formato BIM:


Cronograma de implementação:

  • 2027: Início do projeto-piloto BIM

  • 2026: Plataforma Eletrónica (PEPU) obrigatória em todos os municípios

  • 2030: BIM obrigatório para todos os projetos de arquitetura


Vantagens antecipadas:

  • Verificação automática de conformidade regulamentar

  • Redução de prazos de aprovação

  • Maior precisão na coordenação entre especialidades

  • Facilita alterações e aprovações de modificações



5. Responsabilização técnica: novo paradigma


Transferência de responsabilidade

As alterações recentes reforçam o papel dos técnicos:

  • Termos de responsabilidade centrais: Substituem parte do controlo prévio

  • Fiscalização pós-obra: Mais rigorosa e focada em resultados

  • Declarações de conformidade: Técnicos respondem pela legalidade das soluções

  • Penalizações aumentadas: Para falhas de projeto ou execução


Competências exigidas

Os técnicos devem demonstrar:

  • Conhecimento atualizado da legislação

  • Capacidade de interpretar regulamentos municipais

  • Experiência em coordenação de especialidades

  • Domínio de ferramentas digitais (preparação para BIM)



6. Conselhos para proprietários


Antes de iniciar o projeto

  • Consulte os regulamentos municipais específicos: Cada município pode ter regras adicionais

  • Verifique servidões e condicionantes: REN, RAN, património classificado

  • Analise viabilidade económica: Inclua todos os custos de licenciamento e taxas

  • Escolha técnicos qualificados: Experiência comprovada e seguro profissional atualizado


Durante o processo

  • Monitore prazos: Use deferimento tácito se as Câmaras ultrapassarem limites

  • Mantenha documentação organizada: Facilita fiscalizações futuras

  • Acompanhe alterações legislativas: Regulamentação em constante evolução

  • Prepare-se para fiscalização: Arquivo completo de termos de responsabilidade


Gestão de riscos

  • Seguro de construção adequado: Cobertura de responsabilidade civil e danos

  • Contratos claros: Definição de responsabilidades entre todos os intervenientes

  • Reserva financeira: Para imprevistos ou alterações durante o licenciamento

  • Acompanhamento especializado: Técnicos experientes em procedimentos administrativos



Para considerar


O cumprimento da legislação na construção exige hoje uma abordagem profissional e atualizada, onde a responsabilização técnica substitui progressivamente o controlo prévio extensivo. A escolha de profissionais qualificados e experientes não é apenas recomendável – é essencial para o sucesso do projeto.

A transição para ferramentas digitais como o BIM, embora ainda não obrigatória, representa uma oportunidade de antecipação e melhoria da qualidade dos projetos. Proprietários que invistam desde já nesta modernização beneficiarão de processos mais céleres e seguros.


Alertas importantes:

  • Mantenha-se informado sobre alterações regulamentares frequentes

  • Exija sempre termos de responsabilidade completos dos técnicos envolvidos

  • Considere a implementação voluntária de BIM para futuras vantagens competitivas

  • Não subestime os prazos de licenciamento, mesmo com as simplificações introduzidas


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