Conversão de Restaurante em Habitação: Procedimentos legais e considerações técnicas
- Ana Carolina Santos

- 3 de jul.
- 4 min de leitura
A alteração de uso de um restaurante para habitação representa uma das transformações urbanísticas mais complexas e frequentes no mercado imobiliário português. Esta operação envolve não apenas questões técnicas de adaptação do espaço, mas também um conjunto rigoroso de procedimentos administrativos e normativos que devem ser cumpridos para garantir a legalidade e segurança da nova utilização.

"A conversão de espaços comerciais em habitação exige mais do que boa vontade – é fundamental conhecer os requisitos legais e técnicos antes de avançar."
1. Enquadramento legal da mudança de uso
Tipos de procedimento exigidos
Segundo o RJUE (Regime Jurídico da Urbanização e Edificação), a alteração de utilização de edifícios está sujeita a controlo prévio municipal, podendo seguir diferentes procedimentos conforme a complexidade da intervenção:
Comunicação prévia para alterações simples sem obras estruturais
Licenciamento quando envolvem obras de adaptação significativas
Autorização especial em casos específicos determinados pelos regulamentos municipais
Documentação obrigatória inicial
Documento | Finalidade | Observações |
Certidão da conservatória | Confirmar titularidade e ónus | Deve ser recente (máximo 6 meses) |
Caderneta Predial | Verificar classificação atual | Identifica o uso autorizado |
Plantas do existente | Levantamento rigoroso do estado atual | Por arquiteto ou engenheiro civil |
Projeto de alterações | Definir adaptações necessárias | Incluindo especialidades se aplicável |
2. Condições mínimas habitacionais a cumprir
Requisitos essenciais para habitação
Com base na Portaria n.º 243/84 e RGEU, os espaços convertidos devem satisfazer condições específicas:
Dimensões e áreas mínimas
Compartimentos habitáveis: Área mínima de 8 m², exceto cozinhas (5 m²)
Pé-direito: Mínimo 2,40 m (pode reduzir-se a 2,35 m em casos excecionais)
Forma dos compartimentos: Comprimento não superior ao dobro da largura
Círculo inscritível: Diâmetro mínimo de 1,8 m em cada compartimento
Instalações sanitárias obrigatórias
Uma casa de banho completa com lavatório, sanita e banheira ou base de duche
Ventilação adequada natural ou mecânica
Impermeabilização adequada às exigências de humidade
Iluminação e ventilação natural
Vãos de iluminação: Mínimo 1/10 da área do compartimento
Ventilação cruzada sempre que possível
Orientação solar adequada aos compartimentos principais
3. Aspetos técnicos críticos da conversão
Adaptações estruturais necessárias
A conversão de restaurante em habitação implica frequentemente:
Divisão de espaços amplos em compartimentos habitáveis
Reforço do isolamento acústico entre unidades e com exterior
Adequação das instalações técnicas (água, eletricidade, gás, telecomunicações)
Sistema de aquecimento adequado ao uso habitacional
Cumprimento das normas de acessibilidade
Segundo o Decreto-Lei n.º 163/2006:
Edifícios habitacionais devem garantir percursos acessíveis
Largura mínima de corredores: 1,2 m
Portas com vão útil não inferior a 0,77 m
Pelo menos uma instalação sanitária acessível por habitação
Questões de segurança contra incêndios
As antigas instalações de restauração podem exigir:
Revisão do sistema de deteção de incêndios
Adequação das saídas de emergência ao novo uso
Isolamento de zonas de risco (antigas cozinhas industriais)
Compartimentação corta-fogo entre frações
4. Procedimentos administrativos
Comunicação prévia vs. Licenciamento
A decisão sobre o tipo de procedimento depende do grau de intervenção:
Comunicação prévia (mais simples)
Aplicável quando:
Não há alteração da estrutura do edifício
Mantém-se as características arquitetónicas principais
Cumpre-se o regulamento municipal sem derrogações
Licenciamento (mais complexo)
Obrigatório quando:
Envolver obras de alteração significativas
Necessitar pareceres de entidades externas
Localizar-se em zona de proteção patrimonial
Prazos e custos associados
Comunicação prévia: Resposta em 20 dias úteis
Licenciamento: 120 a 200 dias conforme a área da intervenção
Taxas municipais: Variáveis entre 0,5% a 2% do valor da obra
Projetos técnicos: Entre 4% a 8% do investimento total

5. Desafios específicos da conversão
Compatibilização com edifícios adjacentes
Ruído: Adaptação ao uso habitacional mais exigente
Odores: Neutralização de cheiros persistentes de cozinha
Horários: Adequação a padrões de vida residencial
Infraestruturas técnicas
Dimensionamento elétrico: Adequação às necessidades domésticas
Rede de águas: Separação de efluentes gordurosos quando existentes
Climatização: Sistemas adequados ao conforto habitacional
Telecomunicações: Preparação para fibra ótica e redes domóticas
Questões de vizinhança
Estacionamento: Adequação ao novo número de moradores
Gestão de resíduos: Adaptação aos circuitos domésticos
Entrada independente: Separação funcional de outros usos
Para considerar
A conversão de restaurante em habitação representa uma oportunidade de valorização imobiliária significativa, mas exige planeamento rigoroso e conhecimento técnico especializado. O cumprimento integral da legislação não é apenas uma obrigação legal – é a garantia de habitabilidade, segurança e valorização do investimento.
As alterações recentes ao RJUE simplificaram alguns procedimentos, mas reforçaram a responsabilização técnica dos profissionais envolvidos. A documentação correta, o respeito pelos prazos administrativos e a qualidade da execução são elementos decisivos para o sucesso da operação.
Alertas importantes:
Verifique sempre o regulamento municipal específico da sua localização
Confirme a viabilidade técnica antes de adquirir o imóvel
Considere os custos de adaptação no orçamento inicial
Mantenha documentação completa de todo o processo
Conselho final: Envolva desde o início profissionais experientes em reconversões habitacionais. O investimento em consultoria técnica especializada compensa largamente face aos riscos de atrasos, custos inesperados ou problemas de legalização.
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