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O Regulamento do Condomínio: Um documento essencial para a harmonia entre vizinhos

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 3 de dez.
  • 6 min de leitura

Quando se adquire um apartamento ou fração num edifício, muitas vezes o foco está na qualidade do imóvel, nos acabamentos e na localização. No entanto, existe um documento igualmente importante que merecia mais atenção: o regulamento do condomínio. Este instrumento jurídico é determinante para estabelecer as regras de convivência e para garantir uma relação saudável entre todos os condóminos.



O que é um Regulamento de Condomínio?


Um regulamento de condomínio é um documento que estabelece as regras e normas de conduta aplicáveis a todos os proprietários e ocupantes de um edifício dividido em frações autónomas sob o regime de propriedade horizontal. Este documento disciplina o uso, fruição e conservação das partes comuns do edifício, bem como as obrigações de cada condómino perante a comunidade.


Um bom regulamento é a base para uma convivência harmoniosa e organizada.

O regulamento não é uma criação arbitrária de administradores ou de um único condómino. É, antes, um pacto comunitário que reflete as necessidades específicas do edifício em questão, considerando a sua realidade, a sua localização e o perfil dos seus moradores.



Quando é obrigatório ter Regulamento?


Segundo o Código Civil Português, nomeadamente o artigo 1429.º, a existência de um regulamento de condomínio é obrigatória em edifícios com mais de quatro frações autónomas. Isto significa que qualquer edifício com cinco ou mais moradores deve ter, por lei, um regulamento aprovado em assembleia de condóminos.

Esta obrigatoriedade reflete a importância de estabelecer regras claras quando existe uma comunidade a partilhar espaços, infraestruturas e recursos comuns. Sem um regulamento, a convivência torna-se difícil e os conflitos surgem naturalmente.



Como é elaborado o Regulamento?


A elaboração de um regulamento de condomínio é um processo que envolve os próprios condóminos. A iniciativa pode partir de qualquer membro da comunidade, do administrador ou de um grupo de moradores interessados.

Embora não haja um modelo rígido exigido por lei, o regulamento deve ser redigido por escrito e deve conter disposições claras sobre:

  • Uso das áreas comuns: escadas, corredores, jardins, piscinas ou outras instalações partilhadas

  • Horários de silêncio: períodos em que deve ser mantida uma conduta silenciosa

  • Estacionamento: regras sobre utilização de lugares e zonas de circulação

  • Manutenção e conservação: responsabilidades de cada condómino

  • Animais de estimação: permissão, restrições ou limitações de número

  • Utilização de varandas e terraços: parâmetros sobre fechamentos ou modificações

  • Pagamento de quotas e despesas: processo e prazos

  • Penalidades: consequências pelo incumprimento das normas

É recomendável que a elaboração seja feita com o apoio de um profissional qualificado, como um jurista especializado, para garantir que o documento não apenas respeita a legislação vigente, mas também é realista e aplicável à vida quotidiana dos moradores.



A aprovação em Assembleia: Um processo fundamental


A aprovação do regulamento é realizada em assembleia de condóminos, mas o processo não é tão simples quanto parece. A legislação portuguesa estabelece maiorias específicas consoante a natureza do documento e o seu conteúdo.


Regulamento não integrado no Título Constitutivo

Quando o regulamento é um documento autónomo (não faz parte do título constitutivo da propriedade horizontal), a sua aprovação em assembleia pode seguir diferentes maiorias, dependendo de cada artigo ou disposição específica:

  • Maioria qualificada de dois terços é frequentemente exigida para disposições mais relevantes

  • Maioria simples pode ser suficiente para outras questões de menor alcance

Neste caso, o processo é mais flexível, permitindo a aprovação gradual e artigo por artigo.


Regulamento integrado no Título Constitutivo

Se o regulamento faz parte do título constitutivo (o documento que estabelece a propriedade horizontal), qualquer alteração posterior exige unanimidade de todos os condóminos e deve ser formalizada através de escritura pública. Este é um processo muito mais rigoroso e complexo.


Elementos essenciais do Regulamento

Para que um regulamento seja válido e eficaz, deve cumprir determinados requisitos legais:

  • Redação por escrito: deve ser um documento formal e documentado

  • Data e assinatura: deve incluir a data de aprovação e a assinatura dos condóminos presentes na assembleia

  • Anexação à ata: o regulamento deve ser anexado à ata da assembleia em que foi aprovado

  • Conformidade legal: não pode contrariar a lei, nomeadamente o Código Civil

Um regulamento bem estruturado não apenas cumpre estes requisitos, como transmite clareza e equidade a todos os moradores.



Regras de Convivência: O coração do Regulamento


As regras de convivência são, efetivamente, o coração de qualquer regulamento de condomínio. Estas disposições estabelecem normas comportamentais e de conduta que permitem a coexistência pacífica entre vizinhos.

As regras mais comuns incluem:

  • Silêncio: períodos em que devem ser mantidas as atividades silenciosas (especialmente à noite e de madrugada)

  • Respeito pelas áreas comuns: proibição de danificação, sujidade ou ocupação abusiva

  • Circulação: regras sobre estacionamento, utilização de elevadores e escadas

  • Limpeza: responsabilidades sobre a manutenção de zonas partilhadas

  • Ruído: limites aceitáveis de sons provenientes de atividades quotidianas ou entretenimento

  • Animais: permissão ou restrições quanto a cães, gatos ou outros animais de estimação

  • Visitantes e inquilinos: regras sobre acesso a estranhos ao edifício

Estas regras, quando bem definidas e compreendidas por todos, reduzem significativamente os conflitos entre vizinhos e promovem um ambiente mais agradável para toda a comunidade.



O papel do Administrador na execução do Regulamento


Uma vez aprovado, o regulamento deve ser executado e fiscalizado. Este é papel fundamental do administrador do condomínio, que é responsável por:

  • Assegurar que todos os condóminos têm acesso ao regulamento

  • Garantir o cumprimento das suas disposições

  • Aplicar sanções ou penalidades quando necessário

  • Mediar conflitos decorrentes do incumprimento

O administrador não é um juiz, mas um gestor que deve atuar com imparcialidade e equidade, sempre em prol do bem comum.



O que fazer em caso de alterações necessárias?


Os tempos mudam, as famílias evoluem, e as necessidades da comunidade também. Por vezes, o regulamento exige ajustes ou atualizações para se adequar à realidade atual do edifício.

  • Alteração do regulamento autónomo: Requer uma nova assembleia de condóminos e aprovação pela maioria qualificada exigida. É um processo mais ágil.

  • Alteração do regulamento integrado no título constitutivo: Requer unanimidade de todos os condóminos e deve ser formalizada por escritura pública numa Conservatória do Registo Predial. Este processo é muito mais complexo e exigente.

Por esta razão, muitos especialistas recomendam que o regulamento seja mantido como um documento autónomo, separado do título constitutivo, permitindo maior flexibilidade para futuras adaptações.



Conselhos práticos para a elaboração de um bom Regulamento


  1. Envolver a comunidade: O regulamento deve refletir as necessidades reais dos moradores. Consulte todos os condóminos durante o processo de elaboração.

  2. Ser realista e equilibrado: Evite regulamentos demasiado restritivos que se tornem impraticáveis. O objetivo é promover convivência, não criar um ambiente de opressão.

  3. Procurar orientação profissional: Um jurista especializado em direito do condomínio pode garantir que o documento é legalmente válido e aplicável.

  4. Documentar tudo adequadamente: Guarde cópias assinadas e datas. Isto é essencial para futuras referências e para resolver possíveis litígios.

  5. Adaptar ao contexto específico: Não copie regulamentos genéricos de internet sem os adequar à realidade do seu edifício. Um prédio de luxo com 30 frações tem necessidades completamente diferentes de um pequeno edifício com 6 habitações.

  6. Ser claro e acessível: O regulamento deve ser compreendido por todos. Use linguagem simples e evite jargão legal desnecessário.

  7. Revisar periodicamente: Recomenda-se que o regulamento seja revisto a cada 5 ou 10 anos para se adaptar às mudanças legislativas e às novas realidades da comunidade.



Em poucas palavras


O regulamento de condomínio não é apenas um documento legal obrigatório em edifícios com mais de quatro frações. É um instrumento fundamental para estabelecer as bases de uma convivência harmoniosa e respeitosa entre todos os moradores. A sua elaboração e aprovação devem ser processos participativos, transparentes e bem-estruturados, envolvendo a comunidade e contando com o apoio de profissionais qualificados quando necessário. Um bom regulamento é aquele que consegue equilibrar os direitos individuais com as responsabilidades coletivas, estabelecendo normas claras mas realistas, que promovem bem-estar e harmonia.

Quando os condóminos compreendem o regulamento, respeitam-no e veem-no como um pacto comunitário e não como uma imposição, a convivência naturalmente melhora, os conflitos diminuem, e o edifício torna-se um lugar mais agradável para viver. Se está a gerir um condomínio ou preside a uma assembleia de condóminos, lembre-se: investir tempo e recursos na elaboração de um bom regulamento é investir na qualidade de vida de toda a comunidade.

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