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Conversão de edifícios para Unidades de Saúde: Requisitos técnicos e procedimentos de Licenciamento

  • Foto do escritor: Ana Carolina Santos
    Ana Carolina Santos
  • 2 de out.
  • 5 min de leitura

A transformação de edifícios existentes para uso médico representa uma área especializada da reabilitação urbana que exige conhecimento aprofundado da legislação portuguesa aplicável. Este processo envolve não apenas questões de natureza técnica e construtiva, mas também procedimentos administrativos complexos que devem ser rigorosamente cumpridos para garantir a conformidade legal das novas instalações de saúde.


Vista do interior de uma moradia em Cascais convertida em Unidade de Saúde
Vista do interior de uma moradia em Cascais convertida em Unidade de Saúde

Enquadramento Regulamentar


O licenciamento de unidades de saúde em Portugal está sujeito a múltiplos diplomas legais que estabelecem requisitos específicos para estes equipamentos. O Decreto-Lei n.º 163/2006 constitui um dos pilares fundamentais desta regulamentação, definindo as condições de acessibilidade que devem ser observadas. Este diploma aplica-se especificamente a "centros de saúde, centros de enfermagem, centros de diagnóstico, hospitais, maternidades, clínicas, postos médicos em geral, centros de reabilitação, consultórios médicos, farmácias e estâncias termais".

A legislação portuguesa reconhece a particularidade dos estabelecimentos de saúde através de regras específicas que visam garantir não apenas a funcionalidade técnica destes espaços, mas também a sua acessibilidade universal, assegurando que todos os cidadãos possam beneficiar dos cuidados médicos em condições de dignidade e segurança.



Requisitos técnicos especiais


Condições de Acessibilidade

As unidades de saúde devem cumprir as normas técnicas estabelecidas no anexo ao Decreto-Lei n.º 163/2006, que incluem especificações detalhadas sobre:

  • Percursos acessíveis - Todos os espaços devem estar interligados por percursos que permitam a circulação segura de pessoas com mobilidade condicionada

  • Dimensionamento de espaços - Os compartimentos devem ter dimensões que permitam manobras de cadeiras de rodas e equipamentos médicos

  • Instalações sanitárias adaptadas - Obrigatória a existência de instalações sanitárias acessíveis em conformidade com as especificações técnicas

  • Estacionamento reservado - Lugares de estacionamento específicos para utilizadores com mobilidade reduzida


Normas Construtivas específicas

Para além das regras gerais de edificação, as unidades de saúde devem observar requisitos particulares relacionados com:

Infraestruturas técnicas especializadas:

  • Sistemas de ventilação adequados às atividades médicas

  • Instalações elétricas com circuitos de emergência

  • Redes de gases medicinais quando aplicável

  • Sistemas de tratamento de efluentes hospitalares

Condições de higiene e segurança:

  • Revestimentos de paredes e pavimentos adequados à desinfeção

  • Altura de pé-direito suficiente para equipamentos médicos

  • Iluminação natural e artificial conforme as necessidades das diferentes atividades


Nota importante: A conversão de edifícios para uso médico exige sempre uma avaliação técnica rigorosa das condições estruturais e de segurança existentes.


Procedimentos de Licenciamento


Fase de Planeamento e Projeto

O processo inicia-se com a elaboração de um projeto de arquitetura que deve ter em consideração todas as especificidades do uso médico pretendido. Este projeto deve incluir:

  • Plano de acessibilidades detalhado conforme exigido pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 163/2006

  • Projetos de especialidades adaptados às necessidades específicas das atividades médicas

  • Estudo de impacte ambiental quando aplicável

  • Plano de gestão de resíduos hospitalares


Consulta a Entidades Externas

De acordo com o RJUE, o processo de licenciamento pode exigir consultas a diversas entidades, incluindo:


Tramitação Procedimental

O procedimento segue as regras gerais estabelecidas no RJUE , com as seguintes especificidades:

Instrução do pedido:

  • Requerimento dirigido ao Presidente da Câmara Municipal

  • Projetos subscritos por técnicos legalmente habilitados

  • Termos de responsabilidade específicos para cada especialidade

  • Elementos comprovativos do cumprimento das normas de acessibilidade

Análise técnica:

  • Verificação da conformidade com as normas técnicas aplicáveis

  • Análise das condições de segurança contra incêndios

  • Avaliação do cumprimento das regras de acessibilidade

  • Apreciação da adequação das instalações técnicas



Aspetos críticos do processo


Adequação de Edifícios Existentes

A conversão de edifícios existentes para uso médico apresenta desafios específicos que devem ser cuidadosamente avaliados:

Limitações estruturais:

  • Altura de pé-direito insuficiente para equipamentos médicos

  • Impossibilidade de instalação de ascensores em edifícios antigos

  • Limitações na instalação de sistemas de ventilação adequados

Soluções alternativas: O Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU) e legislação complementar preveem algumas tolerâncias para edifícios existentes, mas no caso de unidades de saúde, estas exceções são limitadas devido aos requisitos específicos de segurança e funcionalidade.


Cumprimento das Normas de Acessibilidade

O Decreto-Lei n.º 163/2006 estabelece que "as câmaras municipais indeferem o pedido de licença ou autorização necessária ao loteamento ou a obras de construção, alteração, reconstrução, ampliação ou de urbanização" quando os projetos não cumpram os requisitos técnicos estabelecidos. Esta disposição é particularmente rigorosa no caso das unidades de saúde.



Casos Especiais e Exceções


Edifícios Históricos e Classificados

Quando a conversão envolve edifícios classificados ou situados em zonas de proteção do património, o processo torna-se mais complexo, requerendo:

  • Parecer favorável do organismo competente em matéria de património

  • Soluções técnicas que conciliem a preservação patrimonial com os requisitos funcionais

  • Estudos específicos de compatibilidade entre as intervenções propostas e os valores patrimoniais


Unidades de Pequena Dimensão

Para consultórios médicos e pequenas clínicas, a legislação prevê algumas simplificações processuais, mantendo-se contudo os requisitos técnicos fundamentais de acessibilidade e segurança.



Conselhos práticos para Promotores e Proprietários


Avaliação prévia obrigatória:

  • Realizar um estudo de viabilidade técnica antes de iniciar o projeto

  • Consultar as condições urbanísticas aplicáveis ao local

  • Verificar a compatibilidade do uso médico com o PDM local

Acompanhamento técnico especializado:

  • Contratar equipas técnicas com experiência específica em projetos de saúde

  • Assegurar a coordenação entre os diferentes projetos de especialidades

  • Prever prazos alargados para a tramitação dos processos



Aspetos Económicos e Financeiros


Custos adicionais

A conversão para uso médico implica normalmente custos superiores aos de uma reabilitação convencional devido a:

  • Instalações técnicas especializadas (gases medicinais, sistemas de emergência)

  • Equipamentos de segurança específicos

  • Revestimentos e acabamentos adequados ao uso médico

  • Sistemas de tratamento de águas residuais especiais


Benefícios Fiscais

Em determinadas circunstâncias, podem aplicar-se benefícios fiscais relacionados com:

  • Investimento em equipamentos de saúde

  • Reabilitação urbana em centros históricos

  • Criação de postos de trabalho no setor da saúde


Moradia em Cascais convertida em Unidade de Saúde
Moradia em Cascais convertida em Unidade de Saúde

Fiscalização e Controlo


Responsabilidades das Câmaras Municipais

As Câmaras Municipais têm competência para fiscalizar o cumprimento das normas estabelecidas, devendo:

  • Verificar a conformidade das obras com os projetos aprovados

  • Assegurar o cumprimento das normas de acessibilidade

  • Promover ações de fiscalização durante e após a execução das obras


Consequências do incumprimento

O incumprimento das normas aplicáveis pode resultar em:

  • Embargo das obras

  • Aplicação de coimas significativas

  • Obrigação de executar obras de correção

  • Impossibilidade de obtenção de licenças de funcionamento



Tendências e desenvolvimentos futuros


Evolução Tecnológica

O setor da saúde evolui rapidamente, exigindo adaptações constantes dos espaços físicos:

  • Integração de tecnologias digitais nos edifícios

  • Maior flexibilidade dos espaços para diferentes utilizações

  • Sustentabilidade ambiental e eficiência energética


Alterações Legislativas

A legislação portuguesa tem vindo a ser atualizada para responder às necessidades emergentes:

  • Reforço das exigências de acessibilidade universal

  • Maior rigor nas condições de segurança

  • Simplificação de alguns procedimentos administrativos



Para refletir


A conversão de edifícios para unidades de saúde representa um desafio técnico e administrativo que exige conhecimento especializado e planeamento cuidadoso. O cumprimento rigoroso da legislação não deve ser encarado apenas como uma obrigação legal, mas como uma garantia de qualidade e segurança para os futuros utilizadores destes espaços.

É fundamental que proprietários, técnicos e entidades públicas trabalhem em conjunto para assegurar que estas transformações contribuem efetivamente para a melhoria dos cuidados de saúde disponibilizados à população, respeitando simultaneamente os princípios da acessibilidade universal e da sustentabilidade urbana.

A complexidade destes processos justifica plenamente o recurso a consultoria técnica especializada, que pode evitar erros dispendiosos e atrasos significativos na obtenção das licenças necessárias.


Este post foi elaborado com base na legislação portuguesa em vigor, incluindo o Decreto-Lei n.º 163/2006, o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação e o Regulamento Geral das Edificações Urbanas. Para projetos específicos, recomenda-se sempre a consulta de profissionais qualificados.

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